A despedida de Hugh Jackman do papel que o consagrou em “Logan”

Assisti ao filme “Logan” ontem de noite, a despedida do ator Hugh Jackman no papel do mutante Wolverine, que o consagrou. Gostei dos resultados. O filme é cheio de referências para quem é próximo aos quadrinhos dos X-Men. Caliban, o mutante albino, personagem clássica dos Morlocks, a comunidade formada por mutantes renegados que viviam nos subterrâneos de Nova Iorque, a personagem que uma vez raptou Kitty Pride para se casar com ela, faz uma ponta.

O filme é um tanto quanto pessimista, apesar do tom mais uma vez político que aparece nas entrelinhas, uma vez que a mutante X-23, a garota Laura Kinney ou Laura Howlett, que possui os poderes parecidos com os do Wolverine, é filha de uma mãe mexicana. Essa parece ser uma tendência contemporânea na Hollywood pós-Trump. Parece que Hollywood tomou partido contra o Governo Trump e não faz nenhuma questão de esconder isso nos roteiros dos filmes. O laço entre EUA e México está presente em “Logan”.

Não chego a dizer, como alguns fizeram, que o filme foge da proposta original dos X-Men enquanto personagens, isso numa análise “filosófica” ou “política” das HQs. Existe uma espécie de conflito de perspectivas com os demais filmes da franquia, sem exatamente fugir da proposta original das personagens. É verdade que o roteiro de “Logan” ficou um tanto quanto “solto” se tentarmos enquadrá-lo dentro de uma sequência de roteiros. É certo que os filmes do Wolverine tem essa característica mais isolada, sem tanta comunicação com os demais filmes dos X-Men. Esse filme “Logan” aprofundou isso e rompeu de forma mais incisiva com a tendência dos roteiros dos outros filmes. Se bem que os X-Men nunca exibem uma perspectiva otimista, na verdade. Eles sempre estão em dificuldades e sofrem perseguições das mais variadas. É um grupo atípico de heróis. As HQs refletiam isso de diversas formas, a começar pelo subtítulo, que dizia que eles eram odiados por um mundo que prometeram proteger.

O maior conflito de perspectivas do roteiro de “Logan”, ao meu ver, é com o filme “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”, o segundo da nova franquia do grupo de mutantes. Tentar enquadrar “Logan” na tendência do segundo filme da nova franquia dos X-Men é frustrante. Não faz qualquer sentido. Se os Sentinelas deixaram de existir, era esperado que o futuro tivesse sido menos sombrio como o que foi mostrado em “Logan”. A estória de “Logan”, de forma um tanto surpreendente, tornou todo aquele esforço inútil.

O filme se passa num futuro não tão distante (2029), onde as coisas não deram tão certo para os mutantes liderados por Charles Xavier, agora nonagenário e precisando dos cuidados de Logan, inclusive para controlar seus poderes telepáticos em razão de uma doença neurodegenerativa. Logan ganha a vida fazendo serviços com uma limosine para poder comprar medicamentos para Xavier. Nisso tudo, entra na trama a garota X-23, Laura, pretendida por um grupo que caça mutantes em nome de uma empresa que faz pesquisas para desenvolver uma nova geração de mutantes, com o objetivo de usá-los como armas de guerra. O roteiro gira em torno disso, mas existem metáforas interessantes que apontam para um possível recomeço dos mutantes.

O destaque fica por conta da interpretação magistral dos atores. Hugh Jackman está mais convincente do que nunca no papel de Logan. Patrick Stewart está brilhante como sempre interpretando Charles Xavier. A jovem atriz que interpreta a mutante Laura, Dafne Keen, já nasceu uma estrela. O ator inglês Stephen Merchant dispensa comentários como o mutante “farejador” Caliban (o filme resgata esse termo, “farejador”, que já foi usado nos quadrinhos dos X-Men para se referir à função desempenhada por Rachel Summers, filha de Scott Summers e Jean Grey, num futuro alternativo, onde ela era usada pelos esquadrões que caçavam mutantes para rastreá-los e exterminá-los).

O filme tem uma perspectiva sombria sobre os projetos pacifistas de Charles Xavier, sendo bastante melancólico em relação a isso. O roteirista, James Mangold, que também é responsável pela direção do filme, não poupou esforços para retratar isso, numa atmosfera acima da média em termos de violência para os filmes da franquia X-Men, que talvez sejam os mais violentos produzidos pela Marvel.

“Logan” é um filme tão “adulto” quanto possível, paradoxalmente, se levarmos em conta a presença de atores infantis no filme. É um drama sobre o cansaço diante da vida, de um lado, e a esperança de dias melhores que nos mantém vivos, de outro lado. Nesse confronto dialético encontra-se o brilho do filme de James Mangold, onde a morte chega com gosto de redenção.

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O dia em que Leandro Karnal “saiu do armário” em termos políticos

Jantar

Leandro Karnal, o filósofo/historiador midiático dotado de voz de padre, finalmente se revelou politicamente para quem nunca tinha percebido seu verdadeiro perfil político ao se encontrar para jantar com o juiz federal Sérgio Moro. Não seria demais afirmar que, até que enfim, Leandro Karnal “saiu do armário” em termos políticos. Eu não me surpreendi nem um pouco com a notícia. Diferentemente da “neutralidade” civilizada que apregoa o fingido Karnal, ele tem lado sim e o lado dele é o do dinheiro que ele ganha bancando o racional que a todos respeita. Posar ao lado do juiz federal Sergio Moro durante um jantar, onde inclusive projetos em comum foram discutidos, segundo o próprio Karnal, diz muito sobre quem ele realmente é.

Neste momento do país, onde Sérgio Moro é corretamente apontado como um juiz federal parcial e um dos maiores protagonistas do golpe de estado perpetrado contra Dilma Rousseff, estando inclusive denunciado na ONU pela defesa do presidente Lula como violador de direitos humanos, é realmente constrangedor ver um sujeito que ganhou notoriedade bancando o pensador racional e ético dar de ombros para todos os atos ilegais e denotativos de desvios de caráter praticados por Sérgio Moro.

Karnal assumiu de vez seu perfil de picareta interessado em ganhar dinheiro sem qualquer compromisso político com a luta contra o golpe de estado fomentado pela Lava Jato. Desconfio inclusive de cooptação, como algo que era o que faltava para ele assumir de vez o que sempre teve vontade de fazer. A imparcialidade de Leandro Karnal é a “imparcialidade” de Sérgio Moro.

Vendo a foto do jantar (acima), postada na página de Leandro Karnal no Facebook, inegável não perceber que ele ostenta na foto o sorriso de quem acabou de conversar sobre “grandes projetos” com o juiz do golpe. É o sorriso de quem está muito satisfeito com a situação no Brasil. Que diferença da postura do escritor Raduan Nassar.

Alguém do alto empresariado brasileiro que financia o golpe provavelmente bancou esse encontro. É uma estratégia de marketing político. Ajuda ambos os lados perante uma parcela da população. Favorece à causa de Moro, o juiz parcial, que tenta a todo custo condenar Lula, mesmo sem provas, e favorece à carreira de Leandro Karnal, que agora ampliará seu rol de admiradores ao atrair a presença ou atenção para a sua carreira dos reacionários que apoiam as ilegalidades da Lava Jato, os quais antes o viam como um filósofo defensor de ideias esquerdistas. Pelo visto,  Leandro Karnal vai agora palestrar para o público da Lava Jato sobre como violar direitos humanos em nome do combate à corrupção. Não pode esquecer, nas palestras, do tópico sobre como um estado de exceção vira algo palatável. Vai ser um “$uce$$o”. Karnal engordou um pouco mais o seu alto faturamento com essa jogada.

Karnal corria atrás de ganhar dinheiro com palestras para um público cada vez maior. Claro que uma pessoa assim não podia ter lado que não o do dinheiro. Um intelectual sério até pode dar palestras. Mas ele não faz disso o objetivo maior de sua vida profissional. Muito menos neutralizando o discurso para parecer “imparcial” politicamente. Essa foi a maior deixa para que Karnal jamais pudesse ser considerado exemplo de defensor de causas políticas que exigem uma tomada de posição. O que puder prejudicar os ganhos dele, ele abdica. É diferente de um palestrante como Lula, que deixa claro sua posição em termos políticos.

No caso do jantar com Sérgio Moro, a explicação pela opção, que normalmente implicaria perder uma parcela do público, a mais progressista e contrária aos arroubos ilegais e antidemocráticos da Lava Jato, é que ele retardou até onde pôde, isto é, até quando a realidade econômica permitiu. Deve ter feito uma análise mercadológica e viu, no atual cenário econômico do país, que era mais positivo para a carreira dele de palestrante, de onde ele certamente extrai a maior parte de sua renda, ficar do lado dos que apoiam Moro. Afinal, a classe trabalhadora viverá tempos de desemprego e de arrocho salarial daqui em diante. Qual o público que sobrará para as palestras dele? Claro que é o público que apoia incondicionalmente a parcial Lava Jato, formado pelos que bateram panela nas varandas dos apartamentos em favor do golpe de estado perpetrado com a Presidenta da República eleita, Dilma Rousseff.

De outra banda, incrivelmente passou despercebido por muita gente o fato do jantar ter acontecido exatos dois dias depois que o TRF da 4ª região, incorretamente, visando blindar o querelado, não recebeu a queixa-crime subsidiária proposta por Lula, Da. Marisa e filhos contra o juiz federal Sérgio Moro, relativa aos atos que ele praticou durante as investigações, como a condução coercitiva feita em franca violação à lei, as interceptações telefônicas ilegais, que culminaram na quebra criminosa do sigilo a partir das divulgações à imprensa, e à busca e apreensão determinada ao arrepio da lei, visando exclusivamente constranger Lula e família, proporcionando um espetáculo midiático com fins manifestamente políticos. Leandro Karnal definitivamente aderiu ao movimento golpista.O jantar entre ele e Moro não foi por acaso. Ele foi pensado estrategicamente. Não pode passar despercebido o relevante fato de que o evento aconteceu exatamente na época em que a queixa-crime subsidiária proposta por Lula e família contra Moro foi invalidamente rejeitada. O jantar, como se observa, tem esse efeito de mostrar solidariedade e apoio a Moro e à Lava Jato.

A atitude do filósofo/historiador careca com voz de padre atrás de rebanho não me surpreendeu em nada. Para mim ele nunca passou de um empresário tentando ficar rico ao difundir suas ideias. Não há qualquer compromisso político com a melhoria da situação do país. Karnal é um elitista que só quer ganhar dinheiro, mesmo que isso implique posar, anunciando amizade e parceria profissional, ao lado de um sujeito que até crime já cometeu no exercício da magistratura quando divulgou conversas gravadas em interceptações telefônicas das mais altas autoridades do país, além de fazer isso com as conversas privadas de Da. Marisa e filhos. Karnal merece ser criticado como um fingido interesseiro atrás de lucro.

Isso se os garotos da Virgínia não chegaram a lustrar a careca do filósofo/historiador com voz de padre para ele dar uma forcinha ao recruta mór na implementação do golpe de estado. Que me desculpem os politicamente corretos, mas é evidente que Leandro Karnal tem o típico perfil do gay enrustido terceiro mundista que sonha em ter o seu lugar ao Sol no Jet Set internacional. Moro tem know how nisso: Até em evento organizado pela revista americana Time já foi homenageado. Leandro Karnal está atrás disso. Em breve estará palestrando na Universidade de Columbia, como fez Sérgio Moro. Nada de novo no front.

São apenas subdesenvolvidos new riches sendo cooptados pelos grupos americanos. Eu sei há muito tempo que gente de origem pobre ou classe média sem consciência política que ascende na vida nunca teve a altivez nacionalista que se deve ter. Isso é coisa geralmente que, no Brasil, só gente de um certo padrão de vida e consciente politicamente tem. A história brasileira é marcada por essa característica. Os maiores nacionalistas brasileiros geralmente vêm da elite brasileira, isso quando adquirem a consciência política necessária. Ascendente social tem uma grande chance de ser colonizado e sem altivez.

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O erro da censura prévia a Bolsonaro na Hebraica de São Paulo

O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) havia sido convidado pelo clube Hebraica de São Paulo para dar uma palestra. Um grupo de judeus brasileiros se mobilizou e redigiu um manifesto, colocando para que outros judeus o assinassem, se posicionando contra a presença de Bolsonaro na Hebraica e defendendo que ele fosse censurado previamente, ou seja, que fosse negado a ele o direito de falar naquele espaço.

Os motivos para a defesa da efetiva censura praticada contra Bolsonaro, de acordo com o que acusou o manifesto, são as supostas ideias que ele defende, tais como homofobia, machismo, racismo, defesa do regime militar brasileiro e da tortura etc. Os judeus que assinaram e redigiram o manifesto lembraram que judeus morreram no regime militar brasileiro (1964-1985), como Vladimir Herzorg, Iara Iavelberg, Ana Rosa Kucinski, Gerson Reicher e Chael Charles Schreier.

O assunto foi objeto de matéria da coluna do jornalista Ancelmo Gois no O Globo no dia de ontem. Bolsonaro respondeu à coluna com um vídeo em sua página no Facebook em que acusa uma perseguição da grande imprensa à sua pessoa pelo fato dele encontrar-se em segundo lugar nas pesquisas eleitorais para a corrida presidencial (chegou inclusive a acusar Gois de ser um “comunista mentiroso”, citando uma entrevista que ele deu em julho de 2009, onde falava que precisou da ajuda da KGB para se disfarçar na época do regime militar brasileiro).

Eu desaprovo a medida defendida no manifesto redigido contra a presença de Bolsonaro na Hebraica de São Paulo. O debate deve ser livre e sem censuras. Sou contra qualquer tipo de cerceamento, ainda mais quando Bolsonaro nega a ligação com ideias nazistas ou neonazistas. Ele tem o direito de expressar suas ideias. Considero errado o “desconvite”. Impedi-lo de falar na Hebraica é o mesmo que condená-lo sem que ele possa rebater as acusações. Sou terminantemente contra esse tipo de postura. Sou favorável ao debate livre e sem censuras prévias. Quem se sentir ofendido por alguma palavra de Bolsonaro sempre pode recorrer ao judiciário. Liberdade de expressão não significa irresponsabilidade pelo que se declara. Censura é atraso.

Bolsonaro vem negando todas as acusações de homofobia, racismo, misoginia etc. É no debate livre que se mostrará o quanto essa postura dele é uma farsa eleitoreira. Cerceando o contraditório, abre-se espaço para que mentiras ganhem ares de verdade. Quem tem razão no debate não precisa lançar mão de qualquer tipo de censura.

A ideia que se passa é a de que somente pessoas que se alinham à comunidade representada pelo Hebraica ou pelo manifesto redigido contra a presença de Bolsonaro é que podem falar na entidade. Isso é antidemocrático e cerceia a liberdade de expressão. A postura da Hebraica é antidemocrática e censura a liberdade de expressão. Bolsonaro tem o direito não só de expressar suas ideias como o de rebater as acusações feitas contra ele. Acusá-lo e negar a resposta no ambiente adequado, perante seus acusadores, é antidemocrático.

O manifesto defende claramente a censura e o cerceamento à livre circulação da informação, além de se colocar contra o contraditório e o direito de se defender de acusações. Isso era o que os militares brasileiros faziam durante a ditadura militar, a propósito. A Hebraica acabou de criar uma nova noção de.democracia: Aquela em que apenas se fala pessoas com quem a gente concorda antes. De quem a gente discorda, nem direito de se defender a gente concede. A gente simplesmente censura. “Democrático”, hein?

Neste ponto, concordo com Noam Chomsky. O debate deve ser livre e sem censuras. É necessário ouvir o que Bolsonaro tem a dizer. Até para criticá-lo com mais fundamentos. Quando você censura alguém, dar a ele um poder que ele não tinha. Quem assinou esse manifesto errou e errou feio. Defendeu censura como meio válido de impor ideias.

Além das previsíveis justificativas de que pessoas como Bolsonaro devem mesmo ser censuradas pelo que supostamente defendem, alguns defenderam o que foi feito alegando que, primeiro, a Hebraica não é um espaço público, é um clube, um espaço privado, portanto, e que não há obrigação de se permitir que alguém fale lá e, segundo, não haveria censura porque Bolsonaro pode falar em outros lugares.

Nenhum desses argumentos serve para afastar a efetiva censura prévia observada neste caso. Todo espaço onde pessoas públicas são convidadas a falar se torna um espaço público de debate, onde a liberdade de expressão deve ser respeitada. Ademais, a ideia de eficácia dos direitos humanos fundamentais em espaços privados é de longa data defendida. Não basta mais contrapor a ação do Estado às liberdades fundamentais. É preciso exigir que os direitos humanos sejam também observados nas relações privadas. O professor Daniel Sarmento, da UERJ, tem brilhante tese de doutorado sobre o assunto. Chama-se “Direitos Fundamentais e Relações Privadas”, tese de Doutorado em Direito Público, defendida na UERJ em junho de 2003 e que foi lançada em livro pela Editora Lumen Juris.

Se isso não for assim, poderia até se defender que, por exemplo, numa assembleia de um condomínio, as pessoas poderiam ter suas palavras cassadas porque não é um espaço público. O veto dado pela maioria, neste caso, não encontra abrigo na Constituição Federal. É claramente um cerceamento da liberdade de expressão. A liberdade de expressão não pode ser cerceada, sob hipótese alguma, muito menos sob a alegação de que é a maioria quem defende o cerceamento numa dada circunstância. O “voto da maioria”, neste caso, não torna válido o cerceamento à liberdade de expressão. A liberdade de expressão não é um direito sindicável, isto é, que pode ser cassado pelo “voto da maioria”, é o que eu quero dizer.

Ainda que se argumente que o direito de Bolsonaro se expressar, neste caso, dependeria de um convite prévio, que a Hebraica não tem obrigação de deixá-lo falar, apesar disso ser verdadeiro, o fato é que houve esse convite antes e, depois, em razão dos protestos de um grupo de judeus brasileiros, houve o desconvite.

Ainda que não houvesse o convite prévio, não se poderia dizer que não houve censura, pois é claro que há censura prévia quando se proíbe alguém previamente de falar num determinado espaço em razão das supostas ideias que defende, ideias que Bolsonaro inclusive nega que defende. Em suma, afirmar que o espaço é privado e a Hebraica convida quem ela quiser, não significa que deixou de haver censura, ao contrário, isso apenas reforça a censura, pois deixa claro que Bolsonaro não atende ao perfil dos que podem falar na Hebraica.

O segundo argumento, o que de que não houve censura porque Bolsonaro pode falar em outros lugares, ele tem outros espaços para falar, é completamente inválido e não afasta a efetiva censura prévia praticada contra Bolsonaro na Hebraica.

É claro que há censura prévia em desconvidar. O fato dele poder falar em outros lugares e espaços não significa que não houve censura prévia na Hebraica, pois é óbvio que houve. Se a possibilidade de se falar em outro lugar retirasse a censura, ninguém mais seria censurado. Imagine uma notícia ser censurada num jornal e alguém dizer: “não há censura porque você sempre pode publicar em outro lugar”. Não vinga, evidentemente. Houve efetiva censura a Bolsonaro por parte da Hebraica e de quem assinou o manifesto.

E eu não vou nem me aprofundar muito no mérito da hipocrisia do manifesto: O judaísmo e o sionismo praticam e defendem muitas das ideias que o manifesto acusou que o deputado federal Jair Bolsonaro defende, muitas das ideias que ele inclusive nega que defende, como homofobia, racismo, machismo etc.

O sionismo, por exemplo, é todo ele baseado numa ideia fundamentalmente racista, a ideia de um Estado baseado numa etnia ou raça. A propósito do racismo na sociedade israelense, ele não se volta apenas contra os palestinos. Existem várias denúncias dando conta do racismo praticado contra uma minoria étnica de judeus etíopes, os falashas. Eles viveriam em “isolamento étnico” dentro de Israel, de acordo com o antropólogo franco-sinegalês Tidiane Ndiaye, que escreveu o livro “Os Falachas, Negros Errantes do Povo Judeu” (sic).

Sobre a defesa da tortura no regime militar, seria muito interessante Bolsonaro confrontar os sionistas citando a tortura efetivamente praticada pelos órgãos de segurança israelenses, como o Shin Bet. Ou seja, seria muito interessante Bolsonaro usar como exemplo da “validade” da tortura o uso que Israel efetivamente faz dela. Sobre isso os sionistas se calam, convenientemente. É por essas e por outras que o debate deve ser livre. Muita coisa poderia ser dita por Bolsonaro nesse debate.

Só para citar outro aspecto da discussão, Israel criou um regime que é acusado de ser parecido com o Apartheid em relação ao tratamento que é dispensado aos palestinos residentes nos territórios ocupados. Muita gente acusa Israel de praticar racismo institucionalizado contra os palestinos.

Sobre a homofobia defendida pela religião judaica ou pelo menos por interpretações do judaísmo, em julho de 2015, um judeu ortodoxo esfaqueou seis pessoas numa parada gay em Jerusalém. Ele inclusive matou uma menina de 16 anos, depois de esfaqueá-la pelas costas, durante essa parada gay realizada em Jerusalém. Detalhe: Ele já tinha esfaqueado outras pessoas antes e tinha inclusive cumprido pena por isso. Saiu e foi esfaquear de novo. Dessa vez com vitimas fatais. Em outras palavras, o judaísmo parece defender ideias homofóbicas.

Que o judaísmo é machista, isso está fora de discussão. São inúmeras as regras que estabelecem uma submissão feminina ao homem. Há alguns anos, ficou conhecido o caso de uma judia de Nova Iorque, chamada Gital Dodelson, casada com um membro de uma conhecida família de rabinos, Avrohom Meir Weiss, que precisou fazer campanha na imprensa local para obter um “passe-livre” do marido para se casar novamente, pois a religião judaica não permite que a mulher se case novamente sem essa autorização do homem. Chama-se “get” em inglês (o ato de obter a autorização) e “agunah” em hebraico, palavra que significa, metaforicamente, a mulher que está “acorrentada” ao homem, por assim dizer, e não pode se casar novamente sem que ele autorize, isso pelas regras da religião judaica. Escrevi sobre o caso em minha timeline do Facebook na época.

Ou seja, se for verdade o que acusaram em Bolsonaro, capaz até de não existir lugar melhor para ele falar do que uma entidade que defende ideias e valores defendidos pelo judaísmo e pelo sionismo ou que pelo menos tem entre seus associados pessoas que defendem tais ideias e valores. Está tudo lá: Machismo, racismo, homofobia, defesa da efetiva prática de tortura etc. O judaísmo (machismo e homofobia, especificamente, existindo acusações de que também defende racismo quando proíbe os casamentos entre judeus e não-judeus) e o sionismo (racismo e tortura, especificamente) defendem tudo isso, cada qual ao seu modo.

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A supremacia dos otários

O mundo hoje é povoado por mais otários do que antigamente. As pessoas se tornam normalmente otárias no mundo de hoje. E muitos dos que não eram otários, pelo contato com o mundo virtual, perderam o tino e o senso crítico e se tornaram otários também. Existe hoje em dia, sem dúvida, uma espécie de supremacia dos otários em todo o mundo.

“Otário” aqui eu uso no sentido de pessoa facilmente enganável, besta, sem esperteza, sem perspicácia, que acredita em qualquer coisa. Hoje em dia, muitas pessoas perderam o saudável costume de questionar o que se vê, se ouve e se lê. Bastam alguns vídeos circularem no WhatsApp que a maioria esmagadora das pessoas acredita que eles são reais, que retratam a realidade. E, dessa forma, farsas sem qualquer credibilidade se passam por verdadeiras.

Foi assim que a orquestração descarada, implementada nos últimos dias no ES, ganhou credibilidade e gerou pânico. A maior parte dos vídeos é feita por anônimos que não se identificam. Gente circulando pelas ruas e mostrando o comércio fechado, que narram os vídeos com o inconfundível tom policial. Muita necessidade de propagar a situação. Assaltos absurdos acontecendo em plena luz do dia, com direito à narração, na maior cara de pau. Casos isolados onde pessoas filmam livremente e os bandidos não pensam em invadir os apartamentos, mesmo quando se diz que o caos é total.

Somente se eu fosse um retardado mental em último grau para dar credibilidade a essa encenação de quinta categoria, que tenta passar a ideia de caos generalizado, quando boa parte dos casos que geram o pânico, justamente inseridos nos que foram filmados, foi fabricada por pessoas ligadas ao movimento paredista da PM.

Foi a pior “false flag operation” da história da humanidade. Uma coisa pateticamente grosseira. Até fingir assaltos os caras estão fazendo nos vídeos, como um vídeo em que um homem bem vestido, correndo, aponta uma arma para um carro em fuga. Pura encenação. Não houve nada daquilo. É justamente no que o órgão terrorista em que se transformou a PM quer que os otários de plantão acreditem. E eles acreditam.

O fato é que muitos casos realmente aconteceram, até pelo incentivo provocado pela divulgação do sentimento de caos completo. No entanto, a situação está longe de ser a que eles tentam retratar. O caos é controlado e surge em situações específicas. Não se trata de um sentimento que atingiu toda a sociedade, que supostamente enlouqueceu e saiu praticando crimes a torto e a direito, mesmo pessoas sem qualquer antecedente criminal. Para acreditar nisso, repito, só mesmo fazendo papel de otário. Ninguém se torna bandido de uma hora para outra apenas porque a PM não faz o policiamento. Qualquer pessoa com o mínimo de discernimento é capaz de perceber e entender isso.

Toda a culpa da situação experimentada pelo ES é do movimento paredista da PM. Eles estão provocando diretamente o “caos” (sic) e praticando diretamente muitos dos episódios. O movimento paredista reacionário de ultradireita é ilegítimo e age como autêntico grupo terrorista.

O movimento é classicamente fascista. Só não vê os inocentes úteis de sempre (entenda-se, otários) ou os mal intencionados.

Movimento de ultradireita, caracterizado por agentes da provocação e que milita na cartilha “bandido bom é bandido morto”. Isso é descarado na situação no ES.

É uma “false flag operation” que utiliza recursos grosseiros de comunicação e encenações para gerar pânico. Só funciona porque o nível critico no Brasil é baixíssimo. Acreditam cegamente em vídeos do WhatsApp. Fala sério. Por isso que o golpe de estado foi dado tão facilmente e não encontra resistência.

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Revoltas das PMs no ES e no RJ indicam orquestração e possível radicalização das forças militares

Eu não tenho mais dúvidas sobre o que está por trás dos inúmeros vídeos que andam sendo divulgados nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, os quais seguem um padrão típico de “agentes da provocação”.

Exemplo do tipo de vídeo a que me refiro pode ser visto no vídeo abaixo:

Isso é movimento típico de golpe militar. É orquestrado. Na história desse país, todo golpe violento sempre começou com esses pequenos focos de protestos e aquartelamento. Tudo vem indicando claramente isso. Usam inclusive as redes sociais e os aplicativos como Whatsapp para criar o clima de insegurança generalizada. A quantidade de vídeos que seguem um padrão, sempre com homens se dirigindo para um público aberto, pedindo alerta, fazendo às vezes de “sentinelas” da sociedade , é denunciativa da orquestração.

Vai se alastrar para outras capitais e o Exército vai ocupar as ruas. Provavelmente tudo combinado entre as PMs dos Estados e o comando das forças armadas em Brasília. O governo Temer tem participação nisso. Vai aprofundar o seu caráter fantoche. Talvez ele veja nessa parceria com os militares a única forma de se livrar da Lava Jato. Vão dar um jeito de desviar a atenção da população com os distúrbios violentos enquanto abafam tudo em Brasília e aceleram certas ações. Tem relações com a Lava Jato também. Talvez um grande acordo tenha sido celebrado longe dos holofotes.

Para tranquilizar a classe média que apoiou o golpe inicial de Temer e cia, eles vão prender Lula em breve. Isso de certa forma é um recado indireto para Lula e seus apoiadores. Bastou Lula mostrar toda a sua força política nos últimos dias, o que provou que uma prisão sua não ficaria sem reação, que eles criaram essa onda de pânico e terror social. É uma tática de intimidação.

Pode ser uma aliança de última hora entre os militares com os implicados na Lava Jato que não receberam apoio da PF, do MPF e da Justiça. Talvez estejamos assistindo a uma ruptura na aliança que permitiu o golpe contra Dilma, especialmente entre o PMDB e o PSDB. A parte que se sentiu prejudicada pela Lava Jato reagiu assim. Não quer cair e aí vai apelar para a violência institucional. Em outras palavras, vai dar um golpe militar. Tudo isso para ir não ir para a cadeia e perder tudo. Tem gente se sentindo traído em Brasília. Nessas horas, o cara faz qualquer negócio para manter sua riqueza, liberdade, além do poder político. Inclusive uma aliança com os militares.

É o PMDB, a velha oligarquia e o velho patrimonialismo brasileiro que estão se recusando a perder espaço para a direita tucana empresarial de SP. Eles perceberam que não serão poupados pela grande imprensa e pela Lava Jato, vide recente matéria de primeira página da revista Veja que, tendo acesso à primeira das delações da Odebrecht, feita pelo diretor Relações Institucionais da construtora, Claudio Melo Filho, acusou vários membros da cúpula do Governo Temer, inclusive o próprio atual Presidente da República. Importa perceber que os distúrbios partiram de Estados governados pelo PMDB. Num deles, o primeiro, Espírito Santo, o governador passou três dias longe do Estado, sem nomear o vice-governador, que é do PSDB, pois não abriu oficialmente a vacância do cargo.

A indicação do Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que seria filiado ao PSDB, para a vaga deixada a partir da morte do ministro Teori Zavascki do STF, não muda absolutamente nada em relação a essa possível ruptura entre PMDB e PSDB, haja vista que, primeiro, Moraes pode não ser aprovado na sabatina do Senado Federal, informações em Brasília dão conta disso, e, segundo, se for aprovado, já se comprometeu totalmente com o PMDB. Terá que se desfiliar do PSDB, inclusive, pois magistrado não pode ser filiado a nenhum partido. Moraes hoje é o homem forte do PMDB e muito do que acontece atualmente certamente tem o dedo dele. Temer não iria nomear alguém que não fosse hoje de sua total confiança.

O fato é que o golpista Michel Temer está implicado seriamente na Lava Jato. Vai ser abandonado pela grande imprensa e por boa parte dos políticos que deram o golpe, dentre eles, os notórios traidores tucanos. Já vem sendo, na verdade. Ele e outros. Moreira Franco foi recentemente impedido de ser ministro por uma série de decisões liminares concedidas por juízes federais, na mesma linha que já havia sido usada contra Lula quando a presidenta eleita Dilma Rousseff o nomeou para o cargo de Ministro da Casa Civil, o que mostra a bancarrota do governo golpista de Temer, a sua insustentabilidade nas atuais condições. Todos da cúpula do governo Temer estão acuados pela Lava Jato.

O que sobra como opção? Sobra a radicalização de um golpe militar, claro. Vai ser disfarçado. Vão gerar esses distúrbios em grandes capitais, calculados, que podem fugir do controle um pouco, mas eles não se preocupam com isso porque eles tem o.poder de controlar com ainda mais presença militar, o que significa até tanques nas ruas. E aí o cenário do golpe militar estará finalmente completo.

É porque o golpe real nunca foi o de Temer e cia. Eles foram usados. O golpe é a Lava Jato. O PMDB percebeu tarde isso. E agora corre atrás do prejuízo. Eles estão dando o contragolpe que o PT não teve como fazer. O PMDB talvez entendeu melhor que a saída era apelar para o nacionalismo militar brasileiro contra os interesses internacionais que patrocinam a Lava Jato. Vai ser um contragolpe pela direita.

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Jornalista egresso da grande imprensa não é liderança política nem partidária

Um dos maiores engodos dos últimos anos no Brasil foi aceitar como válida a ideia de que jornalistas que sempre foram empregados da grande imprensa pudessem ser considerados porta-vozes, líderes políticos ou representantes da esquerda brasileira. Isso é uma asneira, uma burrice sem tamanho. Uma ideia sem qualquer sentido.

Jornalista que tinha que arrumar um emprego para sobreviver, porque essa era a sua profissão, não pode ter o protagonismo político que ganhou nos últimos anos no Brasil. Está errado isso. Não pode formar o pensamento de esquerda no Brasil.

Quem forma pensamento de esquerda são os líderes políticos, os intelectuais e pensadores de esquerda. Jornalista profissional, com histórico de ter sido empregado de grandes grupos midiáticos, não se enquadra nisso. Eles, por dever de ofício, devem ser imparciais tanto quanto possível, sob pena de terem que abdicar da posição de jornalistas que tanto exigem para si. Só esse fato coloca na devida lata do lixo a pretensão de fazer de jornalistas lideranças políticas. Isso ajuda a entender por que as análises políticas em determinados sites autodeclarados “progressistas” são tão pobres e não ultrapassam o limite da opinião sem maior consistência.

Desprovidos da estrutura dos grandes grupos midiáticos com os quais estavam acostumados, os jornalistas, ex-empregados da grande imprensa, viraram meros palpiteiros políticos, sem a formação e o histórico de militância política realmente comprometida com as ideias que tentam fazer crer que defendem. Jornalista não é liderança política nem partidária. Não existe para isso.

Eventualmente, suas opiniões ou matérias que se pretendem reportagens, cada vez mais raras nesse tipo de jornalista palpiteiro político, podem assumir contornos políticos, mas não como vem acontecendo há anos no Brasil, onde eles literalmente assumiram um protagonismo político ilegítimo ou inadequado, contraproducente. Política partidária e que realmente luta pelo poder é para quem é do ramo e quem assume compromissos políticos sem tergiversações ou conveniências. Quem deve escrever para as massas são as lideranças políticas, os militantes políticos, fora das amarras do jornalismo egresso da grande imprensa, com os seus compromissos “profissionais” e seu histórico de amizades que não pode ser desprezado.

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O nefasto proselitismo político feito em cima dos cadáveres da chacina de Campinas

Sinto muito, mas o caso da chacina ocorrida em Campinas na noite do último dia 31/12/2016, em pleno réveillon, em que um homem chamado  Sidnei Ramis de Araujo, de 46 anos, pulou o muro de uma residência num bairro de classe média da cidade e abriu fogo contra todos os presentes no recinto, matando doze pessoas, entre elas a ex-esposa e mãe do seu filho, Isamara Filier, e seu filho de 8 anos de idade, João Victor Filier de Araujo,  e se suicidando em seguida, é muito mais complicado do que dão a entender as rasas e superficiais, nada jornalísticas, opiniões que andam sendo divulgadas pela mídia brasileira, principalmente na blogosfera autodeclarada “progressista”.

O caso, para além da influência da ideologia direitista misógina e/ou machista, trata da alienação parental também, aspecto fundamental do caso que anda sendo desprezado pelas análises “progressistas” feitas em sites da blogosfera brasileira. Seria pertinente fazer uma reportagem séria sobre o assunto e analisar como as coisas estão acontecendo no âmbito da Lei Maria da Penha quando se trata de transferir as medidas protetivas de urgência para os filhos, bem como quais são os critérios que andam sendo aplicados no âmbito do direito de família e do direito da infância e juventude para suspender o convívio entre pais e filhos, direito que goza de amparo constitucional, como deixa claro o caput do art. 227 da Constituição Federal, cuja ideia basilar é repetida em outras leis, a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº 8.069/1990), como deixa claro o caput do art. 4º da referida lei, que trata do direito à convivência familiar e comunitária, direito melhor detalhado nos arts. 19 usque 24 do ECA .

Pois é, isso vem acontecendo muito. Mulheres se aproveitam da Lei Maria da Penha para impedir que os pais tenham contato com os filhos. Usam a lei de uma forma contrária à sua finalidade social, contando com o despreparo de juízes de direito e de promotores de justiça que terminam concordando com o pedido sem que ele esteja devidamente fundamentado e dentro do que preconiza a referida lei.

O crime bárbaro é injustificado, mas partes da carta escrita pelo autor da chacina, onde ele se refere às motivações do crime, deixam transparecer esse uso, que é real, existe e vem causando inúmeros conflitos familiares que poderiam ser evitados se houvesse uma aplicação mais criteriosa da Lei Maria da Penha.

O Poder Judiciário, caso se confirme que o pai foi alvo de uma medida protetiva de urgência que impedia o contato com o filho, também deve fazer uma autocrítica em relação ao acerto da decisão. Pode ser que o caso concreto não ensejasse essa medida extrema.

A alienação parental é um problema gravíssimo e é verdade sim que muitas mulheres tendem a afastar o pai do convívio com os filhos, o que é inadmissível e não pode ser tolerado.

Eu fico muito tranquilo em falar sobre isso, pois advogo bastante no Direito de Família e tenho conhecimento de causa. Para se ter uma ideia de como anda a insensibilidade e a intolerância de algumas mulheres quando o assunto é o direito de convivência dos pais com os seus filhos, uma vez eu fui procurado por uma mulher que queria simplesmente que o padrasto se tornasse ele próprio titular do poder familiar em relação ao filho que ela teve com outro homem.

Em outras palavras, queria praticamente abolir a paternidade do pai biológico, alegando uma suposta indiferença afetiva dele para com o filho. Quando eu comecei a entrevistar a pretensa cliente e comecei a fazer as perguntas, percebi que ela vivia se mudando de cidade em razão do atual marido dela ser um militar do Exército, que vez ou outra era transferido para outro Estado do país.,

Ou seja, ele vivia se mudando de cidade e queria colocar a culpa da falta de contato no pai biológico, como se ele antes não tivesse dado a atenção devida, chegando ao cúmulo de pretender tornar o padrasto do filho o verdadeiro pai, na realidade concreta dos fatos. Evidentemente que eu declinei o caso e disse que não iria patrocinar a causa. Que ela procurasse outro advogado, registrando que o que ela queria fazer era ilegal.

Iguais a esse caso existem tantos outros. As mulheres que detém a guarda dos filhos constituem nova família e passam a tentar substituir a figura do pai biológico pela do padrasto. Não pode, está errado. O pai biológico tem a primazia no exercício do poder familiar em relação aos filhos, mantendo o direito de convivência, mesmo quando a mãe constituiu nova família. Tudo isso está previsto em lei, é disposição expressa de lei.

O resultado é que um pai que se sente sacaneado pela mãe de seus filhos, que fica boicotando a relação entre pai e filho, fundamental na formação de qualquer pessoa, está sim lidando com uma situação que pode claramente gerar violência.

Então, antes de ficar fazendo politicagem nas redes sociais e na blogosfera, é melhor começar a realmente fazer jornalismo, analisar os fatos, fazer uma reportagem decente, estudar o tema e aí sim tirar as suas conclusões.

Um dos pontos sensíveis da Lei Maria da Penha é o disposto no art. 22, inciso IV, vejam:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III – proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.

§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.

§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.

§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Eu já vi juiz de direito deferir essa medida protetiva de urgência de suspensão de visitas aos dependentes menores SEM ouvir a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar. Pelo que eu li na imprensa, isso também aconteceu no processo em que o autor da chacina de Campinas litigava com a ex-esposa sobre o direito de convivência com o filho, conforme noticiou o site G1, em notícia cuja manchete era “Justiça chegou a proibir atirador de chacina de ver filho, diz advogada”.

Essa decisão, em condições normais, deve estar extremamente fundamentada em fatos relevantes, totalmente comprovados e cujos efeitos sejam demonstrados tecnicamente como prejudicais aos menores.

Foi sobre esse ponto que o homicida de Campinas provavelmente se referiu em sua carta. A Lei Maria da Penha não foi aprovada com a finalidade de criar um quadro de alienação parental. Somente se justifica a adoção dessa medida extrema em casos igualmente extremos. A mera alegação de violência doméstica e familiar contra a mulher, ainda que evidenciada por fortes indícios, NÃO é suficiente para deferi-la. A conduta do agressor tem que se mostrar também prejudicial aos filhos menores e isso depende de uma avaliação multidisciplinar, o que, por si só, já impede a concessão em caráter de tutela de urgência, devendo ser garantido o amplo contraditório.

Segundo eu li na imprensa, especificamente no site do UOL, a mulher acusou o autor da chacina de ter abusado sexualmente do filho. Eu conheço outros casos em que mulheres fizeram isso, apenas para atacar a imagem do pai perante o Poder Judiciário e afastar a convivência dele com o filho, tudo isso feito com a intenção de punir o pai. No caso do autor da chacina, a agressão sexual teria acontecido quando ele tinha 3 anos de idade. A reportagem do UOL relatou que a justiça não comprovou as agressões, mas, sem que a matéria esclarecesse, a justiça entendeu que o garoto deveria ser “protegido” e restringiu as visitas aos dias de domingo, alternados, de forma supervisionada, das 9hs às 12 hs. Ou seja, o pai tinha que ir até a casa da mãe, ficar sob vigilância com o filho por apenas três horas.

Pode ser que tudo isso se justificasse, não sei. Mas pode ser sim que o pai estivesse sendo vítima de uma injustiça, de uma falsa acusação, tudo isso feito por meio de distorção intencional dos fatos.

A chacina foi um caso brutal, horrível e condenável. Acontece que eu considero difícil que um técnico de laboratório, com cursos no exterior (EUA, Holanda, foram países citados) fosse tomar uma medida extrema sem que algo grave, na sua perspectiva, tivesse acontecido. Pode ser sim que ele tivesse sido vítima de uma injustiça e tudo isso cooperou para o que aconteceu. Então, antes de culpar ideologias de direita, é bom antes entender os fatos. Não retira a gravidade do crime, mas pelo menos impede leituras equivocadas do que realmente aconteceu.

Claro que alienação parental se resolve na justiça e não justifica crime nenhum, via de regra, frise-se. Entender a verdadeira causa da chacina ocorrida em Campinas não significa que se esteja “justificando” o crime. Significa apenas falar sobre a verdadeira causa do crime e não distorcer como estão fazendo ao dizer que foi machismo e/ou misoginia. Se o pai convivesse normalmente com o filho ninguém teria morrido.

Ele criou ódio da ex-esposa e dos familiares dela a partir do momento que impediram a convivência dele com o filho baseados numa falsa acusação de abuso sexual ou, no mínimo, numa acusação de abuso sexual que não restou comprovada. Foi isso que causou todo o problema. Nada a ver com misoginia ou machismo. Se é certo que não se pode matar, também é certo que não se pode pretender, inclusive por meio de falsas acusações, separar o pai do filho. Isso é mau caratismo, é canalhice e também é um tipo de violência.

Muitas coisas justificam homicídios. Situações de legitima defesa, de estado de necessidade e de estrito cumprimento do dever legal justificam mortes e retiram o caráter criminoso do homicídio. Não foi o caso da chacina de Campinas, pelo menos com os elementos disponíveis até o momento e que são de conhecimento do público em geral a partir das reportagens sobre o caso.

De qualquer forma, falar nisso perde um pouco o sentido no atual cenário. Ninguém, provavelmente, será punido diretamente pelas mortes. O autor material do crime se matou. Ele mesmo se puniu. A polícia está a procura de quem vendeu a arma usada na chacina. Esse vai ser o bode expiatório, caso seja identificado. Vai assumir a responsabilidade pela chacina na medida da sua participação.

Num pais sério, o(a) juiz(a) de direito e o(a) promotor(a) de justiça que atuaram no processo da regulamentação de visitas no qual litigavam o pai e a mãe da criança que morreram na chacina de Campinas seriam chamados para prestar depoimento. Todo o processo da regulamentação de visitas seria analisado. Se ficasse comprovado que a atuação do(a) juiz(a) de direito e do(a) promotor(a) de justiça ajudaram a produzir a tragédia, eles(as) dois seriam indiciados(as). É o que eu defendo que aconteça, o que seja, que haja uma investigação profunda dos fatos, que todo mundo envolvido seja ouvido e suas condutas sejam investigadas.

É relevante investigar a concessão da liminar que proibiu o convívio entre o pai e o filho desde o início do processo, situação que deve ter perdurado muito tempo, uma vez que a Lei Maria da Penha exige que seja feito antes um estudo multidisciplinar para que o pedido seja analisado. Ainda que outra tenha sido a lei usada como fundamento do pedido, isso não muda nada. As exigências legais se mantém, isto é, eram necessárias mais provas para fundamentar uma decisão tão excepcional como a que afasta o convívio entre pai e filho.

Ou seja, uma liminar sobre isso é praticamente impossível de ser concedida, salvo se os fatos forem robustamente comprovados desde o início. Mas as reportagens falam que houve o deferimento dessa liminar. É preciso sim investigar as circunstâncias processuais que autorizaram essa decisão. E se houve uma decisão incorreta ou até mesmo graciosa, produto de influência e/ou corrupção por parte da família da mãe? Tudo isso deve sim ser analisado, pois eu entendo que foi essa liminar o que desencadeou toda a tragédia.

Para mim, o pai foi apenas um dos atores da tragédia. Mais gente é responsável, inclusive as vítimas. O pai é autor do crime e vítima, ao mesmo tempo. Essa é a leitura que eu faço do caso.

Você não pode analisar o perfil do pai como se ele fosse mais um internauta que se deixa influenciar por ideias de direita, pura e simplesmente. Ele era um pai vivenciando uma situação de alienação parental endossada pela justiça, inclusive em sede de liminar, quando a lei diz que deve existir um estudo multidisciplinar antes de tomar essa medida extrema.

O pai não era um sujeito que fica coçando o saco na Internet o dia todo e que, de uma hora para outra, resolveu enlouquecer e matar todo mundo de quem ele discordava, supostamente influenciado por textos que disseminam ideias de direita. Comparar o pai com qualquer debiloide da Internet é errado. É o que a blogosfera progressista, leviana e irresponsavelmente, anda fazendo com que os outros acreditem. Isso é um absurdo, é mau jornalismo, é sensacionalismo e desvio de conduta por parte de quem anda vendendo essa tese.

Existem outros fatores que incidem na situação. Existia um processo judicial que discutia o direito de convivência entre pai e filho, existia um litígio entre o pai e a mãe. Não se pode analisar a situação extraindo esse dado, que é por demais relevante no entendimento do caso. É isso que muita gente anda fazendo, de forma completamente improcedente. E fazem isso apenas por razões de proselitismo político.

Eu li a carta e os xingamentos de “vadia” que aparecem em alguns trechos são meramente acessórios. Não foi a causa principal. Isso deriva do ódio que ele nutriu depois de ser alienado parentalmente do filho. A causa determinante da chacina foi essa e não qualquer outra.

As matérias a respeito não informam se ele, em algum momento, deteve a guarda do filho. Existe uma confusão sobre isso também. O que eu li e entendi é que o pai se separou da mãe e ambos discutiam o direito de convivência do pai com o filho, o que faz sugerir que a mãe era a guardiã desde o início. Eu não estou supondo que ele era um bom pai exatamente, ainda que eu tenha tomado conhecimento de uma declaração de uma testemunha que atestou isso, que o pai era presente, que sempre era visto jogando bola com o filho, que tinha uma relação aparentemente amorosa etc. Essa declaração apareceu numa reportagem do Fantástico sobre o caso. O que eu digo e reafirmo é que o caso não pode ser tratado como vem sendo tratado por sites como Diário do Centro do Mundo e Socialista Morena, que saltaram na frente e usaram como explicação da chacina coisas como machismo e/ou misoginia, extraindo todo um contexto de litígio judicial que existia entre o pai e a mãe.

Sobre a questão dos indícios, o que se tem de concreto sobre a acusação de abuso sexual é que ela não restou comprovada durante o processo. É preciso que se analise quais foram os fatos e provas que o juiz que concedeu a liminar levou em consideração para proibir a convivência entre o pai e o filho. Isso é importante sim, porque pode ser que a revolta do pai, pelo menos num momento inicial em que isso aconteceu, se justifique. E aí tudo deriva disso, é claro. É errado inverter a ordem dos fatos: para mim está claro que todo o ódio que ele manifesta na carta deriva da situação de ter sido proibido de ver o filho durante muito tempo. E pior, no fim do processo, mesmo com a acusação de abuso sexual não comprovada, a justiça de SP restringiu as visitas ao filho. O pai só teria direito de ver o filho na casa da mãe, na presença dela (chama-se visita assistida), em domingos alternados e por apenas 3 horas. Mas o que realmente amparou essa situação? Por que os blogs não se preocupam em analisar isso e já partem para concluir que foi apenas mais um caso de machismo e misoginia? Esse é o problema.

Se o motivo da proibição da convivência foi a acusação de abuso sexual e ela, ao final, restou não comprovada, o que foi então que respaldou a restrição das visitas? Isso precisa sim ser esclarecido, ora. O pai poderia sim estar sendo vítima de uma injustiça e isso causou todo o problema. Portanto, é errado afirmar misoginia e machismo, pura e simplesmente.

Só espero que a polícia investigue a fundo o caso da chacina ocorrida em Campinas na noite de réveillon. É preciso sim investigar as circunstâncias que resultaram na restrição das visitas ao filho por parte do pai, autor da chacina.

Comentando a coluna assinada pelo articulista do Diário do Centro do Mundo, Kiko Nogueira, onde eu dizia que não era possível restringir o caso a mais um cidadão que endossou o discurso de ódio e intolerância contra as mulheres, um internauta me respondeu dizendo que a defesa da mãe no processo que discutia o direito de visitas do pai ao filho teria uma prova áudio-visual do suposto abuso sexual que o pai teria cometido contra o filho. Segundo o internauta, haveria uma incompatibilidade entre a tecnologia da justiça paulista e o formato por meio do qual a prova teria sido produzida e juntada ao processo (geralmente se faz isso por meio de DVD ou CD ROM ou por softwares adotados pelo Poder Judiciário em cada Tribunal brasileiro). Por essa razão, a justiça paulista não teria conseguido comprovar cabalmente o alegado abuso sexual.

Veja bem a que ponto estão chegando. Alguém, respondendo ao meu comentário que pedia mais investigações sobre o caso, lança uma informação num dos comentários que, para ser colhida, somente tendo acesso aos autos. O fato é que a informação não goza da menor credibilidade, isso por vários motivos.

Primeiro, é muito difícil que advogados que representam uma mãe que acusou um pai de abuso sexual não fossem conseguir fazer a prova no meio adequado à tecnologia de que se vale o Poder Judiciário de SP, ao ponto de inviabilizar completamente a prova.

Segundo, ainda que isso tenha, de fato, acontecido, é inimaginável que não só o Ministério Público mas também o juiz de direito que conduzia a instrução do processo fossem deixar passar em branco a análise de uma prova tão importante num processo em que se discutia o direito de visitas do pai ao filho.

Ora, mesmo que a tecnologia de que se vale o Poder Judiciário de SP não conseguisse, por meio de seus próprios instrumentos e/ou ferramentas, analisar o teor probatório do material de mídia que tivesse sido juntado pela defesa da mãe, outros meios, inclusive externos ao Poder Judiciário, deveriam ser acionados para que se analisasse o material probatório, afinal, as crianças têm prioridade absoluta e uma prova dessa natureza, dada a relevância para o desfecho do processo, jamais poderia passar em branco.

Evidentemente que a alegação não goza de credibilidade e isso provavelmente não aconteceu. O que certamente aconteceu foi que todas as provas juntadas pela mãe para amparar a acusação de abuso sexual supostamente praticado pelo pai contra o filho foram analisadas e não se conseguiu comprovar cabalmente a acusação.Por que exatamente a justiça de SP restringiu as visitas do pai ao filho, isso somente tendo acesso ao teor do processo para saber.

O fato é que está existindo um grande equívoco por parte dos sites e grupos progressistas brasileiros quando interpretam esse caso como mais um de misoginia e/ou machismo direcionado contra as mulheres. Isso é falso. Claramente não foi isso o que aconteceu. O estopim de toda a discórdia reside no litígio que pai e mãe sustentavam no judiciário em relação ao direito de visitas que o pai tem em relação ao filho. Apenas esse dado afasta claramente as conclusões que estão sendo divulgadas em vários sites e pelos mais diversos perfis ligados a movimentos feministas. Se a causa da chacina foi o litígio entre pai e mãe sobre o direito de visitas ao filho, não há que se falar em feminicídio ou qualquer coisa semelhante. Houve um caso isolado onde as coisas saíram do controle gravemente.

Em suma, diante das informações disponíveis, posso resumir o caso da chacina ocorrida em Campinas/SP, na noite do último réveillon, aos seguintes aspectos:

1 – O que causou a chacina de Campinas?

O ódio que o pai sentiu da ex-esposa e de seus familiares por causa da justiça ter restringido o convívio com o filho baseada numa acusação, feita pela mãe da criança contra ele, de abuso sexual supostamente cometido contra o filho, acusação não comprovada no processo onde se discutia o direito de convivência.

2 – Não foi machismo e/ou misoginia, considerando que ele usou a palavra “vadia” em vários trechos da carta onde explicava suas motivações?

O machismo e/ou misoginia que transparecem em trechos da carta não foram determinantes para que ele praticasse a chacina, caso contrário, não precisaria esperar pela perda de convivência com o filho para praticar os homicídios. Sem esse fato, a perda da convivência com o filho, ninguém teria morrido.

3 – Negar a misoginia e/ou machismo como causas determinantes da chacina não é “justificar” o bárbaro crime?

Não, não é justificar o bárbaro crime. É apenas entender a real motivação da chacina, evitando contaminar o caso com ideias políticas enviesadas e irresponsáveis, que não estão nem um pouco interessadas em entender a complexidade do caso e usam a tragédia para fazer proselitismo político, atacando adversários políticos em cima dos cadáveres das vitimas, de forma constrangedora. Em suma, explicar a verdadeira causa da chacina não significa justifica-la.

4 – Se não foi machismo e/ou misoginia, por que então morreram mais mulheres do que homens?

O número de vítimas do sexo feminino tem relações com as pessoas que estavam presentes no recinto, na hora que o assassino entrou e começou a atirar. Se existissem mais homens, o número de vitimas do sexo masculino provavelmente teria sido maior. Portanto, morreram mais mulheres porque as mulheres eram maioria no local e não porque o autor agiu com misoginia e/ou machismo na hora de escolher suas vítimas. Ele provavelmente nem teve tempo de pensar nisso. Saiu atirando em quem encontrou pela frente.

5 -A quem interessa desvirtuar a verdade em relação à verdadeira causa da chacina de Campinas?

Interessa principalmente a quem precisa ter o que dizer e escrever na mídia em relação a bandeiras que defendem em termos políticos, subvertendo causas que são justas e legítimas, a exemplo do combate à misoginia e/ou ao machismo, por meio da distorção de fatos e informações que, na realidade concreta, não guardam propriamente relações com o que se afirma em determinado momento.

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Lula e o PT devem ampliar alianças políticas para enfrentar a Lava Jato

O Brasil só terá alguma esperança no curto, médio prazo, se a disputa política se acirrar. Não adianta o PT de Lula tentar lidar com a situação como se estivesse dentro de uma normalidade democrática, do tipo que ainda acredita que Lula poderá normalmente ser candidato a presidente em 2018 e vencer a eleição. Esse erro não pode ser cometido por Lula. Não mesmo.

Falemos com franqueza, sem medo da verdade: vocês, que acreditam que sofremos um golpe de estado, acham que os golpistas irão deixar Lula se candidatar em 2018 a presidente, com chances reais de vencer? Como é essa lógica? Deram o golpe em Dilma para, dois anos depois, perderem o poder para Lula? É nisso que vocês estão apostando as suas fichas?? Não é sem sentido?

É óbvio, claríssimo, que os golpistas não vão permitir que Lula se candidate na eleição presidencial de 2018 e vença a eleição. Claro que não vão permitir isso.

Então, surge a pergunta: o que fazer diante desse cenário antidemocrático?

O que Lula e o PT devem fazer diante disso, que é totalmente possível de acontecer e certamente irá acontecer se nada for feito para combater essa estratégia golpista?

O PT e Lula precisam pensar nesse cenário, que é o real. E, para começar a agir, devem começar a pensar em construir novas alianças. Essas alianças não podem se restringir ao campo que normalmente apoia Lula e o PT. A aliança deve ser ampla, inclusive com setores que não se sentem à vontade com a grande protagonista do golpe de estado, que é a Lava Jato de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e cia.

Vejam, o que eu falo aqui é puro pragmatismo político. Eu defendo a ampliação das alianças do campo progressista contra a expressão judicial do Leviatã de que nos falava Thomas Hobbes, que é a Lava Jato. Nessa linha, gente como o senador Renan Calheiros e outros devem ser trazidos para o lado que hoje ainda luta pelo restabelecimento da normalidade democrática. E não se consegue fazer isso atacando pessoas que, como Lula e Dilma, também são alvos da Lava Jato.

Renan Calheiros e outros também sofrem a perseguição da Lava Jato. Evidentemente que existe espaço para negociar uma aliança pragmática contra um mal maior. Renan é liderança. Iguais a ele, existem tantos outros. Se as forças progressistas ficarem com moralismo besta, sabem o que vai acontecer? Ninguém que ainda tem respeito pela democracia ganhará neste país. A Globo e o PSDB ganham, a Lava Jato ganha.

É preciso saber fazer política. Lula sabe e já deu provas disso em várias oportunidades. Não pode, no atual momento, titubear. Política se faz sempre visando ao que de melhor é possível fazer.

Eu pergunto: quem confia na Lava Jato? Eu mesmo não confio. Prefiro mil vezes Lula no poder, ajudando a reconstruir o país, do que Lula preso ou asilado, com a desvantagem absurda de existir no poder uma ditadura midiática-judicial, moralista e corrupta, antipopular, lascando com todo mundo e entregando o país ao capital internacional, que é para isso que aponta a intervenção da Lava Jato na política brasileira. Os fatos são eloquentes e falam por si sós.

Corrupção sempre existiu neste país. De repente, o sujeito vem e quer ser a palmatória do mundo, o que faz passando por cima da Constituição Federal e das leis? Não, isso está errado sim. Não se pode jogar a água suja do banho fora junto com o bebê.

Sejamos objetivos: o que foi que a Lava Jato trouxe de bom para o país? Nada, absolutamente nada. Só crise política e econômica, desemprego em massa, queda vertiginosa do PIB. É contra tudo isso que se deve lutar. O fato é que o atual cenário político, provocado e muito pela atuação ilegítima da Lava Jato, não interessa em nada ao país.

Está na hora de sermos pragmáticos e acabarmos com essa hegemonia de uma operação policial que está detonando com o país. Ou fazemos isso ou estaremos aceitando a hegemonia de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e cia, “os únicos vestais da nação”, cujo objetivo é acabar com a “velha política” e colocar no poder uma junta burocrática egressa do Judiciário, contando com o apoio da grande imprensa golpista.

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Isolamento político do Governo Dilma deve ser evitado

O isolamento político termina influenciando negativamente a popularidade. Se você protege apenas os políticos do seu partido e acusa os outros, mesmo quando são aliados, a exemplo de Renan Calheiros, que sempre foi aliado dos Governos Lula e Dilma, você acha que vai acontecer o quê? Isolamento político, é claro. E quando vem o isolamento, as forças políticas passam a boicotar o governo isolado perante a opinião pública. Aí vem o bombardeio político dos partidos e na imprensa. Resultado de tudo isso, desse isolamento que se ajudou a construir com sectarismo irracional? Impopularidade, é claro, pois o povo ouvirá as críticas contra o governo que agora vêm de todos os lados, justamente porque não soube cultivar e proteger alianças políticas.

O PT só cuidou, e muito mal, frise-se, de alguns de seus quadros, principalmente Lula. Em muitos momentos, abandonou lideranças, como José Dirceu, que continua abandonado até hoje. Quando era para proteger os aliados, o PT e sua militância não fizeram isso.

A presidenta Dilma Rousseff mesmo era a primeira a agir de acordo com as denúncias que saíam na grande imprensa. Bastava um grande jornal dizer que um ministro era corrupto que ela, ao invés de vir a público e defender o ministro, seu aliado político, ela afastava o ministro sem nem ofertar chance de defesa.Ou seja, tomava a palavra da grande imprensa como verdadeira, a mesma grande imprensa que sempre acusou Lula e depois passou a acusá-la. Um governo desse é sem futuro, vai ficar isolado e terminar seus dias impopular, que foi o que aconteceu com o fracasso administrativo e político que foi o Governo Dilma.

Nunca vi um presidente jogar seus ministros na fogueira como Dilma fazia. Uma total falta de respeito e presunção de culpa do ministro. Nem para dizer que o ministro acusado pela imprensa, aliado político, tinha chance de se defender, ela vinha a público para dizer. Ela afastava imediatamente o ministro. Fez isso com uns quatro ou cinco ministros. Um governo desse não sabe angariar sustentação política e vai cair, é claro. Foi o que aconteceu.

E o que vemos hoje? Exatamente uma manifestação tardia desse tipo de postura por parte dos que apoiam Lula e Dilma, quando vemos eles defenderem com unhas e dentes os dois das acusações da grande imprensa e da Lava Jato, corretamente, mas não os vemos fazer a mesma coisa com outros políticos, como Renan Calheiros, repetindo o comportamento sectário irracional que ajudou a tornar o governo Dilma isolado e impopular.

Nem adianta alegar que Renan é “corrupto” mesmo, é “golpista” ou “traidor”. Não adianta. Renan hoje tenta sobreviver politicamente e tenta escapar de ser mandado para o presídio, EXATAMENTE como Lula também tenta fazer, sendo aqui, neste ponto, irrelevantes as diferenças das acusações que cada um sofre ou as diferenças dos perfis políticos. O que importa é que ambos são acusados pela Lava Jato de serem corruptos, membros de uma organização criminosa etc. Perante a Lei, ambos devem ser tratados com igualdade. A presunção de inocência que existe para um DEVE existir para o outro. Os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal valem para Lula, para Dilma e, claro, para Renan Calheiros também.

Portanto, exigir que Renan faça pelo PT o que nem mesmo o PT, Dilma ou Lula foram capazes de fazer, o que seja, evitar o golpe de estado, é piada. Renan está antes preocupado, hoje em dia, em salvar a sua cabeça, sendo completamente sem sentido esperar que ele defendesse um governo que, no final, sequer queria governar, vide a proposta que Dilma apresentou de eleições diretas, contrariando inclusive as diretrizes do seu próprio partido, o PT, que não apoiou a medida.

Ou seja, enquanto as pessoas lutavam para que Dilma permanecesse no poder, ela vem a público e, praticamente renunciando ao mandato, propõe que fosse realizada uma eleição direta, proposta que, diante da conjuntura política, apenas teria o condão de legitimar eleitoralmente o golpe de estado, sendo essa, provavelmente, a razão pela qual nem o PT apoiou a ideia.

Quem vai se preocupar em defender uma mulher dessa, impopular e isolada politicamente, que praticamente desistiu de governar? Ninguém, é claro, muito menos alguém que, na posição de Presidente do Senado, como Renan Calheiros, estava pressionado por todos os lados e correndo o risco de ir parar na cadeia.

Em suma, o senador Renan Calheiros fez o que era possível fazer na defesa de Dilma diante das circunstâncias e articulou no Senado para que ela pelo menos mantivesse os seus direitos de ocupar cargos públicos intactos. E ele conseguiu construir essa proposta, politicamente. Mais do que isso era impossível fazer na posição dele. Considero injustas, contraditórias, incoerentes, politicamente incorretas, todas as acusações que os apoiadores de Lula e Dilma lançam contra Renan Calheiros, político que sempre foi aliado dos Governos Lula e Dilma.

Deviam pelo menos aplicar a ele a mesma postura de presunção de inocência que dedicam a Lula. Muitos não acham que Lula seja presumivelmente inocente, pois tem plena certeza que Lula é “inocente”, o que não é a minha posição, pois me limito a dizer que não existem provas e mais do que isso não faço, que eu não sou otário. O fato é que, depois de um certo momento, o governo Dilma perdeu completamente a sustentabilidade. E aí, quando este momento chega, querer que os outros façam por você o que você não foi capaz de fazer é simplesmente ridículo.

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Afastamento de Renan da Presidência do Senado é analogia “in malam partem” e reforça estado de exceção

O afastamento do senador Renan Calheiros da Presidência do Senado Federal, por força de decisão liminar concedida pelo Ministro do STF, Marco Aurélio Mello, é consequência da aplicação da tese originalmente criada pelos juristas Luiz Flavio Gomes e Marlon Reis, em artigo publicado ano passado na Folha de São Paulo, e apenas tem o condão de reforçar o estado de exceção que atualmente vigora no Brasil, onde o Poder Judiciário cada vez mais assume a face de uma espécie de expressão judicial do que o filósofo inglês Thomas Hobbes chamou de Leviatã, o poder incontrolável, sem limites, a subjugar a tudo e a todos, única forma de implantar em definitivo a paz e a ordem, limando a pluralidade política que existe num regime democrático.

Lembro-me que, na época em que a tese dos juristas Luiz Flávio Gomes e Marlon Reis foi divulgada, cheguei a elogiá-la, numa análise perfunctória e sem maior reflexão, mas depois, com cuidado, vi que ela tem furos e eles são graves. A tese, toda ela baseada no § 1º, inciso I, do art. 86 da Constituição Federal, que diz que o Presidente da República ficará suspenso de suas funções nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal, estabelece uma espécie de analogia para os que estejam na ordem sucessória para ocupar a Presidência da República.

Em outras palavras, se o Presidente da República ficará suspenso de suas funções se se tornar Réu, o Presidente do Senado, por exemplo, por ser um dos que estão na linha sucessória do cargo de Presidente da República, também deve ser suspenso de suas funções enquanto Presidente do Senado quando se torna réu, sob pena de se admitir que um réu num processo criminal exerça livremente a Presidência da República, o que é vedado pelo art. 86, § 1º, inciso I, da Constituição Federal.

Em suma, a principal ideia que a tese veicula é a de que quem é réu num processo criminal que tramita perante o STF não pode ser Presidente da República. No entanto, a partir dessa premissa, a tese pretende ir além e termina extrapolando o texto constitucional quando estabelece que os detentores de cargos que estão na ordem sucessória para assumir a Presidência da República também devem ser afastados de seus cargos quando se tornam réus em processos criminais perante o STF.

O problema da tese começa logo quando a Constituição Federal não diz que o Presidente do Senado, quando se torna réu num processo criminal, deve ser suspenso de suas funções. Isso é reservado ao Presidente da República. A analogia mais próxima que se poderia construir, a partir de tais premissas, seria impedir que o Presidente do Senado pudesse, de fato, assumir as funções inerentes ao cargo de Presidente da República quando surgisse a oportunidade, sem que isso implicasse suspensão das funções de Presidente do Senado.

No entanto, a tese construída por Luiz Flávio Gomes e Marlon Reis avança essa etapa e atinge o próprio direito de exercer as funções de Presidente do Senado, quando isso, analisando agora com mais cuidado, me parece uma clara extrapolação do que pretendeu a Constituição Federal.

Existe uma máxima hermenêutica que diz que é vedado ao intérprete dizer o que a lei não disse. Se o silêncio da norma jurídica é eloquente, como é o caso da Constituição Federal quanto à suspensão do Presidente do Senado de suas funções a partir do momento que se torna réu num processo criminal, não cabe ao intérprete preenchê-lo, nem mesmo sob a alegação de que, por ser um dos que estão na ordem sucessória da Presidência da República, não pode se permitir que ele ocupe a Presidência do Senado.

Ora, o impedimento somente surge quando, de fato, ocorre a vacância do cargo de Presidente da República, de modo tal que o Presidente do Senado seja compelido a assumir as funções. Enquanto não surgir a necessidade dele ocupar o cargo de Presidente da República, creio não ser correto suspendê-lo da função de Presidente do Senado. Não poder exercer as funções de Presidente da República nem de longe significa a mesma coisa que não poder exercer as funções de Presidente do Senado.

Penso até mesmo que a analogia criada pelo Supremo Tribunal Federal ofende um dos princípios mais básicos da ciência penal, que é a vedação da analogia in malam partem, que nos informa que é proibido lançar mão de uma analogia em prejuízo do réu.

No caso, apesar da ginástica argumentativa que é feita, o que se tem efetivamente é uma analogia direta entre as situações do Presidente da República e do Presidente do Senado, isto é, da mesma forma que o primeiro é suspenso de suas funções quando se torna réu num processo criminal, o segundo também deve ser suspenso quando a mesma situação for observada. A analogia in malam partem é muito evidente, pois se aplica uma norma especificamente criada para uma situação em outra situação distinta, em franco prejuízo dos direitos do réu que sofre a sanção não prevista para a sua situação. A tese anacrônica, que foi encampada pelo STF não apenas no caso do afastamento do Senador Renan Calheiros da Presidência do Senado, mas também no caso do Deputado Federal Eduardo Cunha, afastado da Presidência da Câmara dos Deputados pelos mesmos argumentos, apenas reforça a sensação geral de que vivemos hoje no Brasil um verdadeiro estado de exceção.

Vivemos tempos obscurantistas no Brasil, onde o Judiciário saiu do protagonismo assentado no que se convencionou chamar de “ativismo judicial”, que teria os seus aspectos positivos, para debandar de vez para a ilegitimidade da intervenção inconstitucional sobre os outros poderes. Vivemos no país uma autêntica rebelião dos juízes e de órgãos como o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, que fizeram um pacto para tomar de assalto o poder, passando por cima da soberania popular, sendo a maior expressão desse movimento ilegítimo a Operação Lava Jato, onde o juiz federal Sérgio Moro se destaca como o principal protagonista, ao lado de procuradores da república como Deltan Dallagnol e outros, além de delegados da Polícia Federal.

A mais grave marcha golpista ocorrida até aqui foi a que aconteceu no último domingo, 04/12/2016. Ela escancara de vez os desígnios autoritários da Lava Jato e de seus apoiadores. Ela é o início da luta final para a implantação da ditadura midiática-judicial no Brasil em seu viés autoritário e opressor. Ela é o acirramento definitivo da luta política pelo poder que acontece em Curitiba entre o Lulismo e o fascismo golpista da Lava Jato e de grupos como o MBL.

Esse é o mais fundamental confronto político em toda essa história, o ápice do golpe que estão tentando passar. O apoio da Rede Globo às marchas não surge por acaso. É o pacto já firmado com a Lava Jato para deter em definitivo Lula e o PT.

A derrubada da presidenta eleita Dilma Rousseff foi apenas uma etapa do plano. A principal etapa começou na prática agora. Ou as forças progressistas reagem de uma vez por todas ou sofreremos um golpe que será sem precedentes, o mais difícil e cruel de todos, o golpe dado pelo Judiciário com o apoio da grande imprensa.

A Lava Jato tem o partido dela. Sim, eles criaram o próprio partido, com ideologia própria. A Globo se aliou. O golpe é a Lava Jato e a Lava Jato é o verdadeiro e grande golpe na democracia, na soberania, na independência e na autonomia brasileiras. Ou paramos a ideologia pseudo-apolítica catastrófica, que na verdade é a sabotagem do regime político tradicional da tri-repartição de funções, e extremamente reacionária da Lava Jato, ou seremos governados por uma junta de burocratas egressos do Judiciário sem respaldo ou legitimação popular, apoiada pela grande imprensa.

Com esse tipo de poder, capaz de neutralizar a tudo e a todos, as coisas ficarão incontroláveis. A posição política assumida pela Lava Jato de ser contra a lei de abuso de autoridade é apenas demonstração inequívoca disso. Eles querem acabar com a “velha política” e colocar no comando das coisas pessoas como Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e que tais.

A Lava Jato é o melhor exemplo encontrado na atuação do Poder Judiciário brasileiro de uma espécie de expressão judicial do que Thomas Hobbes chamava de Leviatã, o poder incontrolável, sem limites, a subjugar a tudo e a todos, única forma de implantar em definitivo a paz e a ordem, limando a pluralidade política que existe num regime democrático. É isso o que a Lava Jato significa ideologicamente com a sua bandeira de criminalização da política. A Lava Jato e tudo o que nela existe de arbitrário, antidemocrático, antipopular, antinacional e inconstitucional são o inimigo a ser combatido por todos os que hoje ainda têm algum apreço pela democracia neste país. A decisão do STF que afastou o senador Renan Calheiros da Presidência do Senado Federal é apenas mais um capítulo do surgimento do Leviatã, em sua expressão judicial, no atual cenário brasileiro.

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