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Sérgio Moro é o juiz em julgamento

O juiz federal Sérgio Moro é uma criação da grande imprensa, a mesma que ajudou a dar um golpe de estado no Brasil. Ele é o produto, a consequência natural de treze anos de ataques aos governos de Lula e Dilma das forças conservadoras brasileiras, que não sabiam mais o que fazer para fingir que são democratas e que estavam apenas exercendo a liberdade de imprensa depois que perderam quatro eleições presidenciais consecutivas vencidas pelo PT.

Depois que os abusos perpetrados em nome da propalada liberdade de imprensa fracassaram fragorosamente quanto à intenção de eleger quem eles queriam para comandar o país e, assim, colocarem em prática todas as políticas fracassadas e que fizeram do Brasil um dos países de maior desigualdade social do planeta, a grande imprensa teve que se voltar para as suas crias, a exemplo de Sérgio Moro, o juiz que “amadureceu” na magistratura na era dos Governos do PT, ouvindo e concordando, em seu viés conservador, com as críticas da grande imprensa.

Sérgio Moro é filho da campanha de ódio que a grande imprensa brasileira implementou contra as mudanças perpetradas pelos Governos Lula e Dilma. Iguais a ele, existem muitos. No caso dele, algo merece especial atenção. Ele saiu da posição confortável de mero leitor e/ou telespectador da grande imprensa. Ele agora é um ator central no jogo político do poder que irá definir o futuro do país.

Talvez Moro tenha entendido tarde demais que nem tudo o que leu corresponde à verdade dos fatos. Existem pessoas por trás daquelas matérias ignominiosas, muitas delas que estão longe de ser como diziam a ele que eram. Isso faz toda uma diferença. Talvez, eu disse talvez, Sérgio Moro tenha percebido tardiamente que a “verdade” na qual acreditou nunca foi verdade verdadeira. Eram apenas mentiras criadas por interesses escusos, visando alçar o poder. Talvez ele hoje esteja apenas cumprindo um script no qual acreditou boa parte do tempo e não tem mais como voltar atrás.

No entanto, se, de fato, tiver existido, algum dia, algo de idealista em Sérgio Moro, talvez ele pratique um ato de grandeza e perceba que foi manipulado e nada do que ele achava se confirmou. Talvez Moro chegue à conclusão de que foi atraído para um cenário que não lhe compete, nunca lhe competiu. Esse seria o único ato de justiça que ele poderia praticar nessa altura dos fatos. Absolver Lula, antes de significar uma capitulação diante da falta de provas, seria um ato de grandeza e uma espécie de redenção. Talvez Moro seja, de fato, o idealista que muitos acreditam. A decisão que ele irá proferir no processo significará mais um julgamento dele do que de Lula, uma vez que Lula é julgado pelo povo e não por qualquer juiz de direito. Ainda está em tempo de Sérgio Moro perceber isso.

Acredito que Moro esteja atualmente no piloto automático. A pressão pesa sobre seus ombros. É visível. Moro, percebi isso no vídeo que ele gravou para o programa Fantástico, da Rede Globo, não está tão à vontade como antes. Apresenta-se com um semblante cansado, preocupado, tamanho o fardo que colocaram em suas mãos. Visivelmente, não está confortável com a situação. Ele chegou a um ponto que não tem retorno, salvo se ele for um verdadeiro idealista comprometido com o Direito e com a Justiça e reconhecer que esteve todo esse tempo errado, que não há provas e que, portanto, deve absolver Lula.

Caso ele não seja o verdadeiro idealista que muitos pensam que ele é, veremos a mesma coisa de sempre: Moro sucumbirá ao papel que ele aceitou encenar e irá condenar Lula. A questão é que, se ele fizer isso, entrará para a História como o homem que jogou o país na sua pior crise. A História não poupará Sérgio Moro. Nas mãos de Sérgio Moro não está apenas a liberdade de Lula, mas sim o destino da nação e de seu povo nas próximas décadas.

Na minha opinião, quem verdadeiramente está em julgamento é ele, Sérgio Moro, e não Lula. Existem causas em que quem termina se colocando na posição de julgado é o juiz da causa e não o réu. É o caso de Sérgio Moro no processo a que responde Lula no âmbito da Lava Jato. Não se enganem. Não é Lula quem está em julgamento no processo que tramita em Curitiba. É exatamente Sérgio Moro. Ele é quem está em julgamento, o seu senso de Justiça, seu apego à verdade e ao Direito. É o juiz confrontado com a causa e a sua consciência. Decidir causas é algo de suma importância. Vamos ver se realmente Sérgio Moro está à altura dos grandes juízes.

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Jornalista egresso da grande imprensa não é liderança política nem partidária

Um dos maiores engodos dos últimos anos no Brasil foi aceitar como válida a ideia de que jornalistas que sempre foram empregados da grande imprensa pudessem ser considerados porta-vozes, líderes políticos ou representantes da esquerda brasileira. Isso é uma asneira, uma burrice sem tamanho. Uma ideia sem qualquer sentido.

Jornalista que tinha que arrumar um emprego para sobreviver, porque essa era a sua profissão, não pode ter o protagonismo político que ganhou nos últimos anos no Brasil. Está errado isso. Não pode formar o pensamento de esquerda no Brasil.

Quem forma pensamento de esquerda são os líderes políticos, os intelectuais e pensadores de esquerda. Jornalista profissional, com histórico de ter sido empregado de grandes grupos midiáticos, não se enquadra nisso. Eles, por dever de ofício, devem ser imparciais tanto quanto possível, sob pena de terem que abdicar da posição de jornalistas que tanto exigem para si. Só esse fato coloca na devida lata do lixo a pretensão de fazer de jornalistas lideranças políticas. Isso ajuda a entender por que as análises políticas em determinados sites autodeclarados “progressistas” são tão pobres e não ultrapassam o limite da opinião sem maior consistência.

Desprovidos da estrutura dos grandes grupos midiáticos com os quais estavam acostumados, os jornalistas, ex-empregados da grande imprensa, viraram meros palpiteiros políticos, sem a formação e o histórico de militância política realmente comprometida com as ideias que tentam fazer crer que defendem. Jornalista não é liderança política nem partidária. Não existe para isso.

Eventualmente, suas opiniões ou matérias que se pretendem reportagens, cada vez mais raras nesse tipo de jornalista palpiteiro político, podem assumir contornos políticos, mas não como vem acontecendo há anos no Brasil, onde eles literalmente assumiram um protagonismo político ilegítimo ou inadequado, contraproducente. Política partidária e que realmente luta pelo poder é para quem é do ramo e quem assume compromissos políticos sem tergiversações ou conveniências. Quem deve escrever para as massas são as lideranças políticas, os militantes políticos, fora das amarras do jornalismo egresso da grande imprensa, com os seus compromissos “profissionais” e seu histórico de amizades que não pode ser desprezado.

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A ignorância e a alienação política fortalecem os golpistas

Vejo algumas pessoas dizerem que Dilma deve cair porque o governo é ruim. Como se deveria saber, opinião da oposição ou meramente subjetiva sobre o governo, muitas vezes exclusivamente formada pelo que se lê em revistas e jornais que fazem oposição ao governo, não é suficiente para tirar Dilma da presidência. Percebo que existe muita ignorância e também alienação política na forma como as pessoas formam as suas opiniões, o que prejudica severamente o exercício da cidadania de uma forma racional e saudável. Tudo isso hoje é definitivamente um fator propulsor do golpe que se tenta aplicar contra o Governo Dilma.

Muitas das pessoas que acham o governo Dilma ruim, objetivamente não sabem dizer por que ele ruim. Eu diria que pelo menos 80% não sabem dizer, com clareza e de forma fundamentada, explicando de forma inteligível, por que acha ruim. A maior parte das explicações tenderá a meras opiniões subjetivas. Isso vale tanto para a esquerda quanto para a direita. Algo como “é um governo assistencialista” ou “faz menos reforma agrária do que deveria” ou ainda “onera demais o setor privado com uma alta carga tributária”, sem que tais pessoas demonstrem objetivamente por que outras políticas, se dependessem exclusivamente do governo para serem implementadas, o que nem sempre é o caso, seriam melhores para o país, e, assim, fariam com que o governo fosse efetivamente melhor. Nem sempre as críticas serão corretamente endereçadas ao governo Dilma, já que ele não responde por tudo sozinho. Existem os governos estaduais e municipais, além de existir o Poder Legislativo, que muita vezes impede que uma política pública, que depende da aprovação de uma nova lei para ser implementada, efetivamente o seja.

Muitas vezes o cidadão é mal remunerado pelo patrão, que inclusive não paga os direitos trabalhistas previstos na legislação, e quer culpar o governo por passar dificuldades financeiras, não conseguir pagar as contas etc. A culpa de você ser explorado é do seu patrão e não da Dilma. Cabe a você lutar pelos seus direitos, acionar o sindicato. Se não resolver, procure a justiça do trabalho,que não existe apenas quando a relação de emprego foi encerrada com a rescisão do contrato. Se você faz horas extras e o patrão não paga, por exemplo, você pode cobrar na justiça, com o contrato vigorando. Se você fizer isso e for dispensado sem justa causa, a culpa, de novo e mais uma vez, não é da Dilma. É porque o seu patrão é um desonesto e acha que você, trabalhador, não tem que ganhar todos os direitos previstos em lei.

Mesma coisa no serviço público estadual e municipal. O servidor público municipal e/ou estadual também é mal remunerado pelo governo local e quer culpar Dilma por isso. Sem falar aqueles casos em que o governo local (prefeitura ou governo estadual) não faz o que dele se espera e o cidadão culpa Dilma por isso. Qual a culpa que Dilma tem, por exemplo, se a rua do bairro onde você mora não tem o saneamento básico que deveria? Qual a culpa se os postos de saúde do município não têm os médicos que deveriam ter ou não têm os medicamentos que deveriam ter? Muitas vezes isso é culpa do gestor público municipal. Não é do Governo Federal. Se você vai a uma delegacia prestar queixa e é mal atendido, se a polícia não faz o trabalho de segurança e de combate ao crime que deveria fazer, nada disso é culpa da Dilma. Sem falar as escolas públicas estaduais e municipais. Se o ensino é ruim, de baixa qualidade, a culpa é da Dilma? Não, não é. Você pode aplicar esse raciocínio para várias áreas, transporte, moradia, assistência social (que não é só a União Federal quem presta) etc.

Isso porque eu não falei dos consumidores que sequer se dão ao trabalho de exigir a nota fiscal, ajudando os empresários sonegadores, muitos deles que hoje estão pedindo o impeachment de Dilma na maior cara de pau do mundo. Tem empresário que não paga nem os impostos que embute no preço dos produtos e serviços que comercializa e se acha no direito de apontar o dedo para os outros. Cínicos e hipócritas. Vão primeiro pagar corretamente os direitos da CLT, sem fraudes, e recolher os tributos devidos, que vocês poderão, quem sabe, reclamar de alguma coisa. Antes disso, é pura hipocrisia e desonestidade. Vocês são umas das muitas causas da crise que atinge alguns setores e não podem querer que Dilma assuma toda a responsabilidade sozinha.

Acredito que os critérios para avaliar a qualidade de um governo devem ser revistos. É preferível que se analise o quanto se fez em relação ao quanto se poderia fazer, sempre demonstrando a validade do que foi feito para a melhoria de vida de uma forma geral. Uma determinada política pública deve ser analisada dentro de um contexto maior e de forma comparativa com o que outros governos fizeram naquela pasta. Vejo muitas análises simplistas.

A questão do PIB é um bom exemplo disso. Muito se critica no governo Dilma porque ele não foi capaz de imprimir ao PIB um crescimento mais forte e sustentável. Analisar por que as coisas foram assim e se houve realmente incompetência do governo, poucos dentre os que defendem a derrubada de Dilma serão capazes de fazer ou sustentar.

Os que dizem que o principal motivo é a corrupção são hipócritas e incoerentes, pois em qualquer governo existe caso de corrupção, crime que sempre existiu no Brasil (para se ter uma ideia, eu tenho um livro antigo de direito penal que traz uma apuração de um caso ocorrido no século XIX de corrupção na construção de uma estrada de ferro).

Se o governo Dilma é ruim por causa disso e deve cair, todos os outros são ruins, em maior ou menor grau, e também devem cair. Claro que usar os casos de corrupção é uma bobagem, porque o que importa é se Dilma cometeu pessoalmente ou não algum ato que possa ser considerado corrupção. Cometeu? Não, então não há que se falar nisso para pedir que ela saia do poder. Aliás, sequer a acusação do impeachment que foi acatada por Eduardo Cunha trata disso.

Em suma, muitos dos que apoiam o movimento golpista contra o Governo Dilma, travestido de impeachment, na verdade padecem de ignorância e alienação política, desconhecem os seus direitos mais básicos enquanto cidadãos, desconhecem a divisão de competências existente na Constituição Federal e quem são os agentes públicos e privados que devem responder pelo descumprimento dos mais diversos direitos previstos em lei. Por essa razão, tendem a engrossar o coro daqueles que os manipulam via grande imprensa e que pretendem assumir o poder em Brasília passando por cima do resultado da última eleição presidencial.

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Decisão do TCU que reprovou contas de 2014 do Governo Dilma deve ser rebatida

A decisão do TCU, proferida na data de ontem (07/10/2015), que rejeitou as contas do Governo Dilma de 2014 é mais política do que técnica. Com isso eu quero dizer que, por mais que existam motivos técnicos para reprovar as contas de 2014, isso somente foi feito porque o TCU age instrumentalizado politicamente contra o Governo Dilma. Basta atentar para o fato de que as tais “pedaladas fiscais” também foram praticadas por outros governos e o TCU, quando não era usado pela oposição da época, nunca reprovou tal prática, o que fez agora com as contas do Governo Dilma de 2014.

A inclinação política ficou clara quando o relator do processo, ministro Augusto Nardes, fez questão de ressaltar e frisar que a responsabilidade direta pelas “pedaladas fiscais” é da presidenta da república, Dilma Rousseff, como se o TCU agora fosse órgão consultivo dos golpistas de plantão, tornando-se, assim, ele mesmo, um órgão golpista que virou palco para cidadãos contra os quais pesam graves acusações, como o próprio ministro relator Augusto Nardes, acusado de ser beneficiado com uma quantia milionária num pagamento feito por empresa investigada no âmbito da Operação Zelotes, operação que a grande mídia abafa, mas que envolve bilhões de reais em corrupção, num esquema onde se pagava propinas para beneficiar empresas com problemas junto à Receita Federal.

Falando especificamente sobre decisão de ontem do TCU, que já era esperada, ela significa, dentre outras coisas, que o órgão foi apropriado pela oposição para ajudar no plano golpista de derrubar Dilma Rousseff do poder. Essa constatação é cristalina. No entanto, é importante saber argumentar não só contra o que eles dizem sobre as “pedaladas fiscais” (especificamente por que elas seriam ilegais), mas principalmente saber argumentar para demonstrar que as tais “pedaladas fiscais”, ainda que se reconheça o caráter ilegal delas, não podem servir de fundamento legal para o impeachment de Dilma Rousseff.

Esse é o aspecto mais importante, qual seja, saber argumentar e demonstrar que as tais “pedaladas fiscais”, ainda que ilegais, não caracterizam a prática de crime de responsabilidade por parte da presidenta da República, Dilma Rousseff, condição necessária para a imposição da pena de impeachment.

São duas coisas completamente diferentes:

1 – Negar o caráter ilegal das “pedaladas fiscais” e

2 – Negar que as “pedaladas fiscais”, ainda que reconhecidas ilegais, caracterizem crimes de responsabilidade praticados diretamente por Dilma Rousseff, de forma tal que os atos ou omissões praticados sejam suficientes para ensejar o impeachment.

Com relação ao item “2”, a discussão sobre quando tais atos ou omissões foram praticados é muito relevante, sendo certo que a decisão do TCU que rejeitou as contas do Governo Dilma de 2014 é imprestável para embasar um pedido de impeachment, porque são atos e omissões observados no ano de 2014, na vigência do mandato presidencial anterior e somente fatos ocorridos no segundo mandato, iniciado em 1º de janeiro de 2015, podem fundamentar validamente um pedido de impeachment de Dilma Rousseff, de acordo com o entendimento da melhor doutrina que se dedica a estudar o assunto, a exemplo do artigo de autoria de Lenio Luiz Streck, publicado no site Conjur na data de 25/08/2015, intitulado “Constituição é contra impeachment de Dilma por fato do mandato anterior“, onde Streck, um dos maiores juristas do país, especializado em hermenêutica jurídica, autor de vários livros sobre o assunto, defende precisamente a impossibilidade constitucional de Dilma sofrer impeachment no atual mandato por fato do mandato anterior de 2011-2014.

Portanto, essa decisão do TCU não tem, analisada a conjuntura, a força política ou jurídica alardeada pela grande imprensa que apoia o golpe contra Dilma Rousseff, necessária para ameaçar mais de perto o mandato da presidenta eleita pela maioria dos que compareceram às urnas e votaram validamente nas eleições de 2014. Além disso, esse parecer do TCU, influenciado pela oposição, pode ser rejeitado pelo Congresso Nacional e virar um nada. No entanto, é preciso reconhecer que ela tem força, tem um certo poder de influência se manipulada pela oposição e pela grande imprensa como se espera que seja, mas não pode ser desprezada. A decisão de ontem do TCU deve sim ser rebatida e refutada na lógica do Estado Democrático Direito, onde o Estado se guia por princípios como o da legalidade, ainda mais quando as “pedaladas fiscais” são um dos principais fundamentos do pedido de impeachment veiculado por Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr.

Para que tudo aconteça de um modo que proteja o mandato de Dilma, se ela não renunciar antes (a essa altura do campeonato, hipótese que ganha força), vai ser preciso ter sustentação política no Congresso Nacional e, principalmente, na sociedade civil organizada e no povo que a elegeu e/ou que não apoia o golpe em plena marcha, além de ser estritamente necessário confrontá-los dentro do ordenamento jurídico que regula a matéria.

Apesar da decisão do TCU que aprovou, à unanimidade de votos, a rejeição das contas do Governo Dilma de 2014 não ter qualquer efeito automático e poder, na conjuntura política, ser impugnada e afastada, não quer dizer que a decisão não signifique nada do ponto de vista legal ou jurídico. Além de falsa, negar essa característica é uma tremenda bobagem. O relatório do TCU que rejeitou as contas tem que ser rebatido ou refutado, inclusive para garantir a legitimidade do Governo Dilma, que não pode se desviar da legalidade, isso por imperativo constitucional. As acusações são graves. Precisam ser repelidas. Os ministros do TCU disseram que o governo Dilma fraudou as contas públicas. Isso não é algo desimportante. Isso é gravíssimo. Por outros termos, é dizer que o governo mente na sua contabilidade, é desonesto nos informes ao mercado de seus balanços, realiza despesas sem controle ou previsão orçamentária, sem autorização legal etc.

Ou seja, para o TCU, o Governo Dilma é um Governo caótico, de gente incompetente e desonesta. Isso nunca será uma “bobagem”. Não se pode desprezar acusações graves como essas sem enfrentar o mérito delas e refutá-las, dentro da lei. Não vejo como justificar para o povo de uma forma diferente dessa. A situação do Governo Dilma é muito difícil. A mídia fez questão de televisionar o julgamento do TCU e isso não foi por acaso. A intenção é influenciar o cidadão comum a achar que o que foi feito é suficiente para derrubar Dilma do poder. E assim o apoio popular para o impeachment é conquistado.

Resultado: Os deputados começam a se sentir intimidados a concordar com o TCU, sob pena de não poderem se justificar para o povo que os elegeu e para a sociedade em geral. Então, ao contrário do que dizem, não vai ser simplesmente o deputado chegar e votar contra a rejeição do TCU. A situação é muito mais complicada do que isso. Democracia não é bater na mesa e impor sua vontade à força. Tem que convencer dentro do debate de ideias. Muitos deputados não deixarão de votar favorável ao que decidiu o TCU sobre as contas de 2014 do Governo Dilma se não existirem meios de negar as ilegalidades apontadas. Não é simplesmente chegar e dizer: “Houve ilegalidades, mas eu vou votar contra o parecer do TCU”. As coisas não funcionam assim, ainda mais com a grande imprensa em cima.

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A esquerda deve ocupar mais os espaços da grande imprensa nas redes sociais

Eu considero que as esquerdas no Brasil ocupam muito menos os espaços da grande imprensa nas redes sociais do que deveriam. Era para ocupar muito mais. Preferem, o que considero um erro de avaliação, se enfurnar na blogosfera, quando o debate deve ser público e em todos os espaços possíveis.

Eu, sempre que posso, marco posição e rebato as informações dadas em alguma notícia que considero enviesada politicamente ou não se atendo a outros aspectos importantes. Um aspecto que eu tomei conhecimento recentemente é que as mulheres de esquerda sofrem ataques muito agressivos quando se aventuram a comentar contra alguma notícia anti-governo veiculada pela grande imprensa.

Uma vez eu questionei por que o que uma mulher escreveu na página do site Pragmatismo Político no Facebook e obteve tantas curtidas não foi escrito por ela também numa página da grande imprensa na mesma rede social. Disse que ela tinha que expor aquela opinião não apenas num espaço supostamente favorável em termos políticos, mas também num espaço mais diversificado, para estimular o senso crítico das pessoas em geral. Sabe qual foi a resposta dela? Que era fácil falar isso porque eu era homem (!). Eu disse: “Como assim? Você sofre agressão por ser mulher?” Ela disse: “exatamente” e saiu contando alguns casos concretos. É por essas e por outras que a esquerda deve se unir e atuar mais em conjunto nos espaços da grande imprensa. Quebrar essa hegemonia, ora. Os caras falam sozinhos. Eu sempre exponho minha opinião, sem qualquer receio. Mais gente deveria fazer isso.

Vejo notícias e mais notícias veiculadas pela Folha, Estadão, O Globo, Veja etc, nas redes sociais praticamente livres de contestação, de contraponto. Só quem se manifesta, em muitos casos, são os que concordam com a linha editorial da grande imprensa. Isso não pode. A Internet é livre. Tem que invadir e começar a questionar, em peso, em bloco. Quebrar essa hegemonia de só ter gente reacionária, de direita ou conservadora opinando nos espaços mais acessados. Não existe espaço desse ou daquele. O espaço é, em tese, público e lida com temas de interesse público. Quem é de esquerda é também cidadão e tem o direito de expressar o seu pensamento, suas opiniões políticas. O Brasil é uma democracia e nós precisamos exercitar melhor esse conceito.

Vou citar um exemplo ocorrido hoje na página do jornal “O Globo” no Facebook, que publicou uma notícia com a seguinte manchete: “Maioria do TSE vota pelo desarquivamento de investigação contra campanha de Dilma” (ver a notícia clicando no link a seguir: https://www.facebook.com/jornaloglobo/posts/1105846169455061).

Eu comentei explicando o erro, a tentativa de manipulação das pessoas contida na manchete, afinal, não foi uma “investigação” que foi desarquivada, mas sim um processo judicial que veiculava uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME), proposta pelo PSDB contra a candidatura de Dilma Rousseff. Expliquei que a situação suscitada por iniciativa do ministro Gilmar Mendes era teratológica, uma monstruosidade jurídica, absolutamente inválida, uma vez que ele decidiu pelo desarquivamento do processo com base em fatos novos, posteriores à propositura da ação e ao próprio arquivamento do processo, algo completamente proibido e não autorizado pelo direito.

Eis o comentário na íntegra:

“Desarquivar uma investigação? Que espécie de jornalismo é esse? Não consegue nem dar a notícia de forma correta e verdadeira. O que foi desarquivado, por força de uma iniciativa teratológica do ministro Gilmar Mendes, foi uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) que já tinha sido arquivada. Detalhe: desarquivaram um processo usando fatos novos, o que não é permitido em direito. Se um processo foi arquivado, ele foi arquivado e pronto. Novos fatos devem ser discutidos numa nova ação. Acontece que a ação para impugnar mandato eletivo tem prazo de 15 (quinze) dias, contados da diplomação. O que o Gilmar Mendes fez? Como uma nova ação de impugnação de mandato eletivo encontra obstáculo na questão do prazo para a sua propositura (os quinze dias já finalizaram faz tempo), ele usou fatos novos ou supervenientes (não usados pelo autor da ação no primeiro momento) para desarquivar o processo, passando por cima da lei, da Constituição Federal e do direito processual. Querem dar o golpe a pulso, contando com a “forcinha” da grande imprensa, que distorce os fatos e manipula as pessoas. Essa manchete é uma vergonha absoluta em termos de jornalismo!!”

Eu li rapidamente os comentários dos internautas e a maioria sequer atentava para a manipulação de O Globo e, mais grave, sequer atentava para o quão grave foi essa iniciativa de desarquivar o processo com base em fatos novos. Claro que as coisas são assim: não existe contraponto na dimensão exigida porque simplesmente quem deveria fazer isso, se omite, seja lá a razão pela qual faz isso.

Portanto, considero importante e mesmo fundamental que a esquerda ocupe os espaços da grande imprensa nas redes sociais. A esquerda brasileira deve ocupar cada vez mais tais espaços e quebrar a hegemonia reacionária que existe. O debate de ideias é sempre salutar para a democracia.

Discordo, inclusive, de recente texto, intitulado “Compartilhar para falar mal. Apenas parem”, publicado no site da revista Carta Capital, em que o autor, Lino Bocchini, defende a tese de que é errado divulgar textos que saem na grande imprensa dos quais você discorda, mesmo que seja para mostrar os erros do colunista autor do texto ou criticá-los, defender ideias contrárias as que se encontram no texto divulgado. O erro estaria no fato de que, ao fazer isso, a pessoa estaria “legitimando o veículo ou o colunista como um polo de discussão”. Para Bocchini, seria irrelevante se você concorda ou discorda do texto. Cada vez que alguém compartilha o texto, mais pessoas são pautadas por ele, inclusive quem compartilhou e os amigos dele.

Eu discordo da ideia, apesar de entender a intenção do boicote proposto, ainda que ela não tenha qualquer força na realidade dos fatos. O boicote às notícias da grande imprensa das quais você discorda, ao fim e ao cabo, é um tanto quanto inócuo para lutar contra a importância mercadológica da grande imprensa. É importante sim rebater o que está escrito. Pior é imaginar que os deixar para lá, ignorar, irá diminuir o efeito do que eles escrevem. O debate aberto, o confronto de ideias, sempre será melhor do que simplesmente deixar alguém que você considera que está errado falando sozinho. Quem tem razão no debate não precisa cercear nem censurar a opinião discordante. A liberdade de expressão deve ser exercida inclusive para legitimar aquilo que você defende. E não se faz isso evitando o contraditório, o confronto de ideias. O debate deve ser encarado com naturalidade. O que deve prevalecer é a força das ideias, tudo isso dentro de um ambiente democrático e livre de cerceamentos.

Acredito que é importante não só rebater os textos da grande imprensa dos quais se discorda no próprio espaço ou em espaços favoráveis à visão política de quem discorda deles, se for o caso, mas também ocupar os espaços nos quais as notícias, colunas ou posts em geral são originalmente publicados e fazer o contraponto. Nada disso impede que você divulgue os seus próprios textos críticos nos espaços que acha melhor. Dá para fazer as duas coisas. Ignorar quem pensa diferente de você nunca foi uma boa estratégia, ainda mais quando a correlação de forças é desproporcional, como neste caso da grande imprensa.

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