Arquivo do mês: abril 2017

“Lista de Janot” leva o país a uma encruzilhada

A assim denominada “lista de Janot”, referente aos nomes dos políticos importantes que foram acusados e serão investigados numa série de inquéritos que serão abertos a partir das delações premiadas de executivos do grupo Odebrecht, leva o país a uma escruzilhada. Chegará um momento que o país terá que escolher qual o caminho que irá trilhar: se pune todo mundo, se pune apenas alguns, basicamente os mais sacrificáveis do PMDB e do PSDB e todos os do PT que foram acusados, ou se não pune ninguém.

Depois que Dilma Rousseff nomeou Graça Foster presidenta da Petrobras em 2012, dando o passo decisivo para a criação da Lava Jato, o cenário para o PT não é dos mais animadores, antes o contrário. O principal risco que as ações erráticas de Foster e Rousseff podem significar para o PT é ver suas lideranças serem as únicas condenadas no esquema do Petrolão, considerando que a Lava Jato concentra todo o ódio de classe e político contra o Partido dos Trabalhadores e suas principais lideranças, principalmente Lula.

Se em algum momento, as duas senhoras “puritanas”, Foster e Dilma, acharam que o MPF, a PF e Justiça Federal iriam agir republicanamente e punir todo mundo, indistintamente, elas correm o risco de verem que nada disso vai acontecer. Que somente o PT será atingido significativamente. Uma coisa é agir republicanamente num ambiente republicano, onde as leis são aplicadas e cumpridas como deveriam. Outra coisa é ser republicano num ambiente não-republicano, onde as leis são aplicadas com parcialidade e atendendo a interesses políticos.

Essa parcialidade da Lava Jato é o que dificulta a proposta de anistia geral para todos os acusados, além dos erros que o PT cometeu no trato com os adversários políticos ao longo de 13 anos, achando que divergência política devia ser tratada como se fosse briga de torcida. Hoje, quando um acordo precisa ser construído, faltam condições e ambiente para um diálogo, diante das mágoas e ressentimentos recíprocos.

Faltou tino político em quem acreditou na imparcialidade das instituições e hoje, como preço a pagar pelo erro cometido, se vê envolvida nas acusações, como é o caso de Dilma Rousseff. Triste ironia. Ela achava que não respingaria nela. Não sei como pôde pensar isso. Culpo também seus assessores mais próximos, principalmente José Eduardo Cardozo e Aloísio Mercadante, que deviam ter percebido que os rumos que Dilma escolheu tomar quanto à questão na Petrobras eram catastróficos para o partido e para o país.

É totalmente equivocada a leitura que alguns andam fazendo do que realmente representou Graça Foster na eclosão da crise que acomete o país e levou ao golpe de estado. As ações erráticas de Graça Foster, divorciadas ideologicamente do Partido dos Trabalhadores e da estratégia petista para se manter no poder, fruto de seu perfil extra-partidário, ajudaram na perpetração do golpe de estado, essa é a verdade.

Muitas das posições de Graça Foster são iguais às posições antipetistas da Lava Jato. Foi ela quem primeiro proibiu que as construtoras posteriormente investigadas pela Lava Jato contratassem com a Petrobras, contrariando inclusive a posição de Dilma Rousseff, que queria diferenciar as pessoas das empresas. Foster soube de tudo via Marcelo Odebrecht muito antes, soube inclusive do envolvimento do PT. Foi o açodamento de Graça Foster, sua falta de compromisso partidário com o PT, que ajudaram à expulsão do partido do poder, inclusive à bancarrota de Dilma.

Foster era uma estranha no ninho. É inclusive cria da Odebrecht, onde havia ocupado cargo importante. Marcelo Odebrecht faz referência a uma troca de emails que comprovam que ela soube dos esquemas de corrupção envolvendo o PMDB e o PT. Ao invés de consultar as lideranças do partido para saber o que exatamente fazer, ela e Dilma agiram isoladamente e deu no que deu.

Dilma tem responsabilidade no próprio golpe de estado, isso hoje está claro a partir das delações dos Odebrecht. É essa a leitura que eu tenho, que coincide inclusive com a de Luis Nassiff nos dois últimos artigos que escreveu a respeito, intitulados, respectivamente, “Xadrez da lista de Janot, o senhor do tempo” e “Xadrez da lista de Janot, o senhor do tempo – 2“.

Num dos trechos do segundo artigo, Nassif, acertadamente, percebendo qual foi o papel de Dilma na ignição da crise, escreveu que “Primeiro, levaram os petistas e peemedebistas suspeitos. Como eu não fiz nada – diria Dilma Rousseff – deixei o campo livre para o Ministério Público e a Polícia Federal, para resolver, por mim, os problemas do presidencialismo de coalisão”. Esse trecho simboliza com maestria o que eu também penso que aconteceu.

Graça Foster havia sido alertada por Marcelo Odebrecht que o PT estava envolvido, num episódio em que o questionou acerca de um caso de pagamento de propina ao PMDB. Mesmo assim levou o caso ao ministério público, abriu procedimentos internos. Ou seja, Foster deu a ignição a tudo isso que vemos aí, comprometendo inclusive Dilma, que, encurralada pela sua posição moralista, mesmo quando foi beneficiada direta pelos atos de corrupção que irrigaram suas duas eleições, deu de costas para os companheiros de partido e da base aliada. Trairagem é isso aí.

Faltou maturidade política, malícia e a percepção de que ela já estava envolvida em tudo. Não podia jamais ter agido como agiu, principalmente por ser integrante do PT. Graça Foster ainda tem a desculpa de não ter sido nunca do PT. Mas a Dilma? Ela agiu errado sim, não mediu as consequências dos seus atos. Quis se apartar da situação quando não havia mais como. Hoje, paga por esse erro, porque os acusados passaram a acusá-la, mesmo que por retaliação. O fato é que ela se complicou. Talvez Foster saia ilesa. Dilma, acho muito difícil.

Em suma, alguns defensores de Lula e Dilma, equivocadamente, elogiam uma mulher, Graça Foster, que é uma das responsáveis pela construção do ambiente que levou ao golpe de estado e ao enquadramento das principais lideranças do PT, inclusive Lula e Dilma.

Não se deve cair na esparrela de querer diferenciar os corruptores dos corruptos. Essa posição, hoje em dia, é insustentável. Era um esquema onde os interesses de ambos os lados eram contemplados. Alguns cometem o erro de identificar a posição de Graça Foster com a do PT, quando ela era diametralmente oposta à posição do PT. O PT jogou o jogo do sistema político brasileiro. E Dilma , em sua falta de visão política, levou para a Petrobras uma pessoa sem qualquer compromisso partidário com o PT. Essa é a semente da Lava Jato e do golpe de estado. Tudo deriva daí. Todo o resto é consequência e se soma ao que aconteceu a partir daí.

Vejam trecho da delação premiada de Marcelo Odebrecht onde ele explica, detalhadamente, tudo isso:

Atualmente, temos três cenários possíveis em relação às condenações que serão geradas pela Lava Jato:

1 – Majoritariamente, com uma ou outra exceção sacrificável, até pela corrupção grosseira cometida, caso de Aécio Neves, José Serra, Geddel Vieira, Elizeu Padilha, Eduardo Cunha e outros do PMDB, o PT será o mais duramente atingido, com a condenação de seus principais nomes, de Lula a Dilma, passando por Palocci, Guido Mantega, Paulo Bernardo, Aloisio Mercadante etc;

2 – Todos os acusados serão condenados, indistintamente, pulverizando o sistema político-partidário brasileiro e nos deixando sem quadros, submetidos ao jugo de uma junta burocrática judicial-midiática, que irá pintar e bordar, contando com a inépcia do aventureiro que estará no comando do executivo;

3 – Ninguém dentre os acusados será condenado, do que depende a aprovação de uma lei que anistie o caixa 2 de campanha considerado ato de corrupção pela Lava Jato. A implementação dessa proposta depende do quanto as partes conseguirão superar suas diferenças, do quanto assumirão seus erros e do quanto terão a noção de que o que foi praticado era subjacente ao sistema político brasileiro, de um modo que não dava para se dissociar. Como disse Marcelo Odebrecht, todos os políticos eleitos até hoje fizeram o que foi feito no âmbito do Petrolão. Quem disser que não fez, estará mentindo. Então Dilma mente, Lula mente, FHC mente, Serra mente, Aécio mente, todos eles mentem quando dizem que nada sabiam. Sabiam sim, eu acredito em Odebrecht. Então vamos deixar de ser hipócritas e vamos falar das coisas como elas são. Não tem santo nessa história. Todo mundo errou. E considerando a dimensão dos erros, que todo mundo se anistie mutuamente, para que o país crie novas regras a partir de agora, sob pena de não sobrar ninguém para tocar o barco e o país cair nas mãos de uma versão brasileira de Silvio Berlusconi, como aconteceu na Itália depois das operações mãos limpas. E o nosso Berlusconi já tem nome e cara: trata-se do almofadinha, “Lulu de madame”, chamado João Dória. Aí é que esse país vai de mal a pior até a bancarrota total.

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