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Isolamento político do Governo Dilma deve ser evitado

O isolamento político termina influenciando negativamente a popularidade. Se você protege apenas os políticos do seu partido e acusa os outros, mesmo quando são aliados, a exemplo de Renan Calheiros, que sempre foi aliado dos Governos Lula e Dilma, você acha que vai acontecer o quê? Isolamento político, é claro. E quando vem o isolamento, as forças políticas passam a boicotar o governo isolado perante a opinião pública. Aí vem o bombardeio político dos partidos e na imprensa. Resultado de tudo isso, desse isolamento que se ajudou a construir com sectarismo irracional? Impopularidade, é claro, pois o povo ouvirá as críticas contra o governo que agora vêm de todos os lados, justamente porque não soube cultivar e proteger alianças políticas.

O PT só cuidou, e muito mal, frise-se, de alguns de seus quadros, principalmente Lula. Em muitos momentos, abandonou lideranças, como José Dirceu, que continua abandonado até hoje. Quando era para proteger os aliados, o PT e sua militância não fizeram isso.

A presidenta Dilma Rousseff mesmo era a primeira a agir de acordo com as denúncias que saíam na grande imprensa. Bastava um grande jornal dizer que um ministro era corrupto que ela, ao invés de vir a público e defender o ministro, seu aliado político, ela afastava o ministro sem nem ofertar chance de defesa.Ou seja, tomava a palavra da grande imprensa como verdadeira, a mesma grande imprensa que sempre acusou Lula e depois passou a acusá-la. Um governo desse é sem futuro, vai ficar isolado e terminar seus dias impopular, que foi o que aconteceu com o fracasso administrativo e político que foi o Governo Dilma.

Nunca vi um presidente jogar seus ministros na fogueira como Dilma fazia. Uma total falta de respeito e presunção de culpa do ministro. Nem para dizer que o ministro acusado pela imprensa, aliado político, tinha chance de se defender, ela vinha a público para dizer. Ela afastava imediatamente o ministro. Fez isso com uns quatro ou cinco ministros. Um governo desse não sabe angariar sustentação política e vai cair, é claro. Foi o que aconteceu.

E o que vemos hoje? Exatamente uma manifestação tardia desse tipo de postura por parte dos que apoiam Lula e Dilma, quando vemos eles defenderem com unhas e dentes os dois das acusações da grande imprensa e da Lava Jato, corretamente, mas não os vemos fazer a mesma coisa com outros políticos, como Renan Calheiros, repetindo o comportamento sectário irracional que ajudou a tornar o governo Dilma isolado e impopular.

Nem adianta alegar que Renan é “corrupto” mesmo, é “golpista” ou “traidor”. Não adianta. Renan hoje tenta sobreviver politicamente e tenta escapar de ser mandado para o presídio, EXATAMENTE como Lula também tenta fazer, sendo aqui, neste ponto, irrelevantes as diferenças das acusações que cada um sofre ou as diferenças dos perfis políticos. O que importa é que ambos são acusados pela Lava Jato de serem corruptos, membros de uma organização criminosa etc. Perante a Lei, ambos devem ser tratados com igualdade. A presunção de inocência que existe para um DEVE existir para o outro. Os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal valem para Lula, para Dilma e, claro, para Renan Calheiros também.

Portanto, exigir que Renan faça pelo PT o que nem mesmo o PT, Dilma ou Lula foram capazes de fazer, o que seja, evitar o golpe de estado, é piada. Renan está antes preocupado, hoje em dia, em salvar a sua cabeça, sendo completamente sem sentido esperar que ele defendesse um governo que, no final, sequer queria governar, vide a proposta que Dilma apresentou de eleições diretas, contrariando inclusive as diretrizes do seu próprio partido, o PT, que não apoiou a medida.

Ou seja, enquanto as pessoas lutavam para que Dilma permanecesse no poder, ela vem a público e, praticamente renunciando ao mandato, propõe que fosse realizada uma eleição direta, proposta que, diante da conjuntura política, apenas teria o condão de legitimar eleitoralmente o golpe de estado, sendo essa, provavelmente, a razão pela qual nem o PT apoiou a ideia.

Quem vai se preocupar em defender uma mulher dessa, impopular e isolada politicamente, que praticamente desistiu de governar? Ninguém, é claro, muito menos alguém que, na posição de Presidente do Senado, como Renan Calheiros, estava pressionado por todos os lados e correndo o risco de ir parar na cadeia.

Em suma, o senador Renan Calheiros fez o que era possível fazer na defesa de Dilma diante das circunstâncias e articulou no Senado para que ela pelo menos mantivesse os seus direitos de ocupar cargos públicos intactos. E ele conseguiu construir essa proposta, politicamente. Mais do que isso era impossível fazer na posição dele. Considero injustas, contraditórias, incoerentes, politicamente incorretas, todas as acusações que os apoiadores de Lula e Dilma lançam contra Renan Calheiros, político que sempre foi aliado dos Governos Lula e Dilma.

Deviam pelo menos aplicar a ele a mesma postura de presunção de inocência que dedicam a Lula. Muitos não acham que Lula seja presumivelmente inocente, pois tem plena certeza que Lula é “inocente”, o que não é a minha posição, pois me limito a dizer que não existem provas e mais do que isso não faço, que eu não sou otário. O fato é que, depois de um certo momento, o governo Dilma perdeu completamente a sustentabilidade. E aí, quando este momento chega, querer que os outros façam por você o que você não foi capaz de fazer é simplesmente ridículo.

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Decisão do TCU que reprovou contas de 2014 do Governo Dilma deve ser rebatida

A decisão do TCU, proferida na data de ontem (07/10/2015), que rejeitou as contas do Governo Dilma de 2014 é mais política do que técnica. Com isso eu quero dizer que, por mais que existam motivos técnicos para reprovar as contas de 2014, isso somente foi feito porque o TCU age instrumentalizado politicamente contra o Governo Dilma. Basta atentar para o fato de que as tais “pedaladas fiscais” também foram praticadas por outros governos e o TCU, quando não era usado pela oposição da época, nunca reprovou tal prática, o que fez agora com as contas do Governo Dilma de 2014.

A inclinação política ficou clara quando o relator do processo, ministro Augusto Nardes, fez questão de ressaltar e frisar que a responsabilidade direta pelas “pedaladas fiscais” é da presidenta da república, Dilma Rousseff, como se o TCU agora fosse órgão consultivo dos golpistas de plantão, tornando-se, assim, ele mesmo, um órgão golpista que virou palco para cidadãos contra os quais pesam graves acusações, como o próprio ministro relator Augusto Nardes, acusado de ser beneficiado com uma quantia milionária num pagamento feito por empresa investigada no âmbito da Operação Zelotes, operação que a grande mídia abafa, mas que envolve bilhões de reais em corrupção, num esquema onde se pagava propinas para beneficiar empresas com problemas junto à Receita Federal.

Falando especificamente sobre decisão de ontem do TCU, que já era esperada, ela significa, dentre outras coisas, que o órgão foi apropriado pela oposição para ajudar no plano golpista de derrubar Dilma Rousseff do poder. Essa constatação é cristalina. No entanto, é importante saber argumentar não só contra o que eles dizem sobre as “pedaladas fiscais” (especificamente por que elas seriam ilegais), mas principalmente saber argumentar para demonstrar que as tais “pedaladas fiscais”, ainda que se reconheça o caráter ilegal delas, não podem servir de fundamento legal para o impeachment de Dilma Rousseff.

Esse é o aspecto mais importante, qual seja, saber argumentar e demonstrar que as tais “pedaladas fiscais”, ainda que ilegais, não caracterizam a prática de crime de responsabilidade por parte da presidenta da República, Dilma Rousseff, condição necessária para a imposição da pena de impeachment.

São duas coisas completamente diferentes:

1 – Negar o caráter ilegal das “pedaladas fiscais” e

2 – Negar que as “pedaladas fiscais”, ainda que reconhecidas ilegais, caracterizem crimes de responsabilidade praticados diretamente por Dilma Rousseff, de forma tal que os atos ou omissões praticados sejam suficientes para ensejar o impeachment.

Com relação ao item “2”, a discussão sobre quando tais atos ou omissões foram praticados é muito relevante, sendo certo que a decisão do TCU que rejeitou as contas do Governo Dilma de 2014 é imprestável para embasar um pedido de impeachment, porque são atos e omissões observados no ano de 2014, na vigência do mandato presidencial anterior e somente fatos ocorridos no segundo mandato, iniciado em 1º de janeiro de 2015, podem fundamentar validamente um pedido de impeachment de Dilma Rousseff, de acordo com o entendimento da melhor doutrina que se dedica a estudar o assunto, a exemplo do artigo de autoria de Lenio Luiz Streck, publicado no site Conjur na data de 25/08/2015, intitulado “Constituição é contra impeachment de Dilma por fato do mandato anterior“, onde Streck, um dos maiores juristas do país, especializado em hermenêutica jurídica, autor de vários livros sobre o assunto, defende precisamente a impossibilidade constitucional de Dilma sofrer impeachment no atual mandato por fato do mandato anterior de 2011-2014.

Portanto, essa decisão do TCU não tem, analisada a conjuntura, a força política ou jurídica alardeada pela grande imprensa que apoia o golpe contra Dilma Rousseff, necessária para ameaçar mais de perto o mandato da presidenta eleita pela maioria dos que compareceram às urnas e votaram validamente nas eleições de 2014. Além disso, esse parecer do TCU, influenciado pela oposição, pode ser rejeitado pelo Congresso Nacional e virar um nada. No entanto, é preciso reconhecer que ela tem força, tem um certo poder de influência se manipulada pela oposição e pela grande imprensa como se espera que seja, mas não pode ser desprezada. A decisão de ontem do TCU deve sim ser rebatida e refutada na lógica do Estado Democrático Direito, onde o Estado se guia por princípios como o da legalidade, ainda mais quando as “pedaladas fiscais” são um dos principais fundamentos do pedido de impeachment veiculado por Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr.

Para que tudo aconteça de um modo que proteja o mandato de Dilma, se ela não renunciar antes (a essa altura do campeonato, hipótese que ganha força), vai ser preciso ter sustentação política no Congresso Nacional e, principalmente, na sociedade civil organizada e no povo que a elegeu e/ou que não apoia o golpe em plena marcha, além de ser estritamente necessário confrontá-los dentro do ordenamento jurídico que regula a matéria.

Apesar da decisão do TCU que aprovou, à unanimidade de votos, a rejeição das contas do Governo Dilma de 2014 não ter qualquer efeito automático e poder, na conjuntura política, ser impugnada e afastada, não quer dizer que a decisão não signifique nada do ponto de vista legal ou jurídico. Além de falsa, negar essa característica é uma tremenda bobagem. O relatório do TCU que rejeitou as contas tem que ser rebatido ou refutado, inclusive para garantir a legitimidade do Governo Dilma, que não pode se desviar da legalidade, isso por imperativo constitucional. As acusações são graves. Precisam ser repelidas. Os ministros do TCU disseram que o governo Dilma fraudou as contas públicas. Isso não é algo desimportante. Isso é gravíssimo. Por outros termos, é dizer que o governo mente na sua contabilidade, é desonesto nos informes ao mercado de seus balanços, realiza despesas sem controle ou previsão orçamentária, sem autorização legal etc.

Ou seja, para o TCU, o Governo Dilma é um Governo caótico, de gente incompetente e desonesta. Isso nunca será uma “bobagem”. Não se pode desprezar acusações graves como essas sem enfrentar o mérito delas e refutá-las, dentro da lei. Não vejo como justificar para o povo de uma forma diferente dessa. A situação do Governo Dilma é muito difícil. A mídia fez questão de televisionar o julgamento do TCU e isso não foi por acaso. A intenção é influenciar o cidadão comum a achar que o que foi feito é suficiente para derrubar Dilma do poder. E assim o apoio popular para o impeachment é conquistado.

Resultado: Os deputados começam a se sentir intimidados a concordar com o TCU, sob pena de não poderem se justificar para o povo que os elegeu e para a sociedade em geral. Então, ao contrário do que dizem, não vai ser simplesmente o deputado chegar e votar contra a rejeição do TCU. A situação é muito mais complicada do que isso. Democracia não é bater na mesa e impor sua vontade à força. Tem que convencer dentro do debate de ideias. Muitos deputados não deixarão de votar favorável ao que decidiu o TCU sobre as contas de 2014 do Governo Dilma se não existirem meios de negar as ilegalidades apontadas. Não é simplesmente chegar e dizer: “Houve ilegalidades, mas eu vou votar contra o parecer do TCU”. As coisas não funcionam assim, ainda mais com a grande imprensa em cima.

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A blogosfera “progressista” que não soube falar para um público diversificado

A grande imprensa tanto fez que está em vias de conseguir derrubar Dilma Rousseff do poder, com a ajuda dos desonestos, dos ingênuos, alienados e inocentes úteis de sempre. Eu quero saber daqueles, dentre os apoiadores do Governo Dilma, que repetiam sempre que podiam: “se Dilma cair, esse país vai pegar fogo”. Dizem isso sobre a prisão de Lula também, a propósito. Isso normalmente significaria alguma coisa, mas não para um certo tipo de gente desmiolada.

A abertura do impeachment vai ser aprovada pela Câmara dos Deputados. Tudo indica isso. E não vai adiantar culpar apenas Eduardo Cunha. Ele pode ter culpa, mas não será o único. A verdade é que isso está prestes a acontecer e nada indica que o país vai pegar fogo mais do que a labareda que sempre foi. É o resultado de ficar se guiando por uma blogosfera que manipula tanto quanto a grande imprensa: Perde-se o contato com a realidade, vira-se manada tanto quanto aqueles que se critica. Jornalistas sem compromisso com os fatos, exercendo, megalomaniacamente, com ajuda de verbas públicas federais, o pendor para a vaidade delirante por meio de opiniões sem qualquer fundamento e contaminadas por desvios de conduta pessoais, expressos em ataques pessoais rancorosos e não menos canalhas.

Muitos auto-declarados progressistas passaram os últimos anos rebatendo a grande imprensa, o que só pode ser feito pautando-se por ela. A culpa disso é total da blogosfera, que não criou a sua própria pauta, seja por falta de estrutura de uma órgão de imprensa profissional e sério, seja porque este nunca foi o objetivo.

O fim do Governo do PT tende a ser também o fim desse tipo de jornalismo amador e equivocado em sua forma de atuação megalomaníaca, apressada na tentativa de fazer frente à grande imprensa, quando todo um trabalho de criação de um público diversificado deveria ser feito antes e não apenas agir como um clubinho para convertidos, totalmente refratários, em seu sectarismo incivilizado, a convencer as pessoas democraticamente em relação a qual a melhor opção, que a grande imprensa estava errada, que os interesses por trás das críticas são nefastos etc. Tudo isso consequência de amadorismo e megalomania desvairada.

Tiveram tempo, treze anos, e dinheiro para criar uma imprensa verdadeiramente alternativa, independente e séria, profissional, que sabe fazer jornalismo capaz de formar opinião. Não souberam fazer nada disso, desperdiçaram tempo e dinheiro, consequência de mentes superadas, fora de sintonia com o mundo contemporâneo, vindos de outros tempos, inclusive egressos…da grande imprensa. Faltou pragmatismo, busca de resultados, pensar estrategicamente. O resultado é que nunca formaram opinião junto ao grande público, pois não agiram como um órgão de imprensa genuíno e original deve agir. Não sabem como fazer isso sem repetir velhas fórmulas e massageando egos gigantescos. Não possuem a competência necessária para isso, para além do amadorismo jornalístico distante dos fatos.

Opinião politicamente interessada, tendenciosa, não basta para fazer jornalismo formador de opinião direcionado a um público diversificado. É preciso ter técnica, talento, capacidade de dialogar em várias frentes. Não sei como foram capazes de levar uma ideia tresloucada dessas adiante até os últimos momentos. Vão agonizar, sangrar, tanto quanto o Governo que um dia juraram defender. A torneira dos recursos federais vai fechar. E aí o resultado será o ostracismo total.

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O indisfarçável ataque ao Nordeste do jornalismo “conversa de botequim”

O jornalista Luis Nassif, natural de Poços de Caldas e que fez carreira em São Paulo, escreveu um post na seção Luis Nassif Online do Jornal GGN, site de sua propriedade, atacando, de forma inequivocamente preconceituosa e discriminatória, passível, a depender da interpretação, de ser considerada racista, ainda que de forma velada, o diretor presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, num artigo intitulado “Flávio Rocha, o pobre homem rico da Riachuelo”.

Sob a desculpa de criticar o empresário pelo fato dele, ao “ousar” analisar a “matriz econômica” do Governo Dilma, ter declarado que preferia um impeachment rápido a ter que enfrentar três anos de um governo inerte, como o de Dilma Rousseff, algo nessa linha, Luis Nassif usou, de forma possivelmente ilícita, o fato do dono da Riachuelo ser do Nordeste para destilar um preconceito rasteiro e não menos lamentável em sua falta de escrúpulos. Para ele, o “nordestino” (sic) dono da Riachuelo não tem o direito de falar isso porque é do Nordeste, a região que supostamente mais teria se beneficiado com os programas sociais implementados pelos Governos do PT, fato que teria favorecido a Riachuelo, uma empresa que vende, segundo ele reforçou, para pessoas de baixa renda e que está longe de ter como público consumidor a elite do país. Em contraponto às críticas ao perfil empresarial do “nordestino” Flávio Rocha, Nassif cita como exemplos Jorge Gerdau e Jorge Paulo Lehman e seus sócios, cujo grupo empresarial foi recentemente objeto de uma matéria da BBC Brasil que ligava uma de suas fundações ao movimento golpista “Vem pra Rua”, como se pode ler num post que eu escrevi em meu antigo blog, intitulado “O novo ramo do mercado: a indústria do golpe”.

Não bastasse ter praticamente dito, ainda que por outras palavras, que todos os habitantes do Nordeste, não importa aqui se é rico ou pobre, não têm o direito de criticar o Governo Dilma por causa dos programas sociais, o que só reforça as críticas da direita reacionária brasileira de que os programas sociais são usados como verdadeiras chantagens moral e política (“quem você pensa que é para não apoiar o Governo do PT? Um pobretão do Nordeste que vive de programas sociais, ora”) e compras de votos, afinal, ninguém do Nordeste tem nem mais o direito de criticar o governo por causa disso, Nassif acusa o dono da Riachuelo de ter “vergonha” de ser do Nordeste, num texto ignominioso onde fica claro o desvio de conduta do jornalista que Diogo Mainardi, certa feita, chamou de “banana” numa coluna da revista VEJA e chegou a ser processado por isso. Certamente o ataque ao Nordeste registrado no texto, ainda que sob a desculpa de atacar o perfil do dono da Riachuelo, não é coisa de “banana”, mas, do ponto de vista ético, é extremamente lamentável.

Afinal, por que alguém acharia que um empresário do Nordeste tem “vergonha” de ser oriundo do Nordeste? Evidentemente está, ainda que indiretamente, atribuindo qualidades negativas ao fato de se ter nascido no Nordeste, ao ponto de supor que o empresário Flávio Rocha teria “vergonha” de ser chamado de “nordestino” pelos “colegas” do Sudeste. Em outras palavras, a percepção social que ele tem do que as pessoas acham sobre o que significa ser do Nordeste é tão ruim que ele é capaz de supor que alguém, mesmo um empresário bem sucedido como Flávio Rocha, teria “vergonha” disso. Inacreditável e não menos constrangedor que um jornalista, que se arroga na posição de formador de opinião, escreva algo desse nível como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Pelo texto, parece algo que teve que ser cavado para atacar pessoalmente o empresário Flávio Rocha. Como não podia atacar o empresário enquanto tal, afinal, como o próprio Nassif fez questão de registrar, trata-se de um “homem muito rico”, bem sucedido, lançou-se mão do puro e simples ataque pessoal valendo-se da região onde ele nasceu, o Nordeste, mais precisamente no estado do Rio Grande do Norte. É para acender o sinal de alerta de todos os empresários bem sucedidos do Nordeste, considerando que, se o jornalista Luis Nassif não gostar do que eles declararem em alguma entrevista, ele estará disposto a lembrá-los de que eles são do Nordeste e do quanto eles sentem “vergonha” disso.

A linha do ataque baixo proferido contra o dono da Riachuelo é a de desmerecê-lo por ele não ter a suposta sofisticação nem a origem necessária para bancar uma de membro da elite brasileira. Afinal, para isso, defende o deslumbrado Luis Nassif, oriundo da conservadora sociedade mineira, mais especificamente da interiorana Poços de Caldas, é preciso, no mínimo, não ser do Nordeste e vender para pessoas ricas e “sofisticadas”, o que não é o caso da Riachuelo. Se o dono da Riachuelo ao menos fosse do sudeste e realmente fosse uma pessoa que empreendesse para pessoas ricas e “sofisticadas”, Nassif não falaria nada, conforme se depreende de suas palavras e do perfil injustificadamente esnobe que ele ostenta no texto, sendo ele o mero dono de um site “jornalístico” amador que vive de receber verbas públicas federais, salvo a existência de algum outro empreendimento igualmente desimportante (“Agência Dinheiro”?). Ou seja, Nassif atacou a condição de nascido no Nordeste do empresário, o que é, evidentemente, preconceituoso e discriminatório, não fazendo qualquer sentido imaginarmos esse tipo de referência a um empresário que tivesse nascido no Sudeste, como o texto deixou muito claro. O simples fato de ser do Nordeste desautoriza o empresário em sua crítica, na opinião de Nassif.

Não é a primeira vez que Nassif, o jornalista sem público, como outrora, age dessa forma contra o Nordeste e contra quem o oriundo da provinciana Poços de Caldas acha que não merece respeito. Certa feita, ele, que não tem qualquer importância no pensamento econômico brasileiro, de qualquer ponto de vista que se analise, sendo um mero jornalista que escreve muito mal sobre economia, num texto intitulado “O dia em que Alexandre Quem? julgou ter demolido Celso Furtado“, escreveu expressamente que o principal economista que integrava o grupo de Eduardo Campos, Alexandre Rands, que era inclusive irmão do deputado Maurício Rands, não tinha estofo para criticar Celso Furtado, o economista e intelectual brasileiro renomado que era inclusive natural de Pombal, no sertão da Paraíba, e chegou a estudar em Recife antes de se mudar para o Rio de Janeiro com a família, como havia feito por meio de uma crítica que, em verdade, se dirigia muito mais aos centros acadêmicos paulistas que viviam eternamente estudando os mesmos autores, a exemplo da Unicamp, justificando a sua censura ao economista pernambucano porque ele simplesmente era de Pernambuco e nunca tinha saído de Pernambuco, ninguém o conhecia fora do Estado, algo nessa linha. Um argumento nitidamente falacioso, que usa de recursos como ataque ad hominem, falácia ad populum e falácia do apelo à autoridade para desmerecer a crítica, que deve ser analisada apenas e exclusivamente pelo teor das ideias que veicula, descartados outros fatores. Enfim, puro preconceito e discriminação, tão ao gosto dele, como já ficou claro em inúmeros textos de sua autoria.

Eu inclusive cheguei a comentar esse post indicando o equívoco da crítica, tendo argumentado na ocasião o seguinte:

“O pernambucano Alexandre Rands tem o direito de criticar as ideias de quem ele achar que deve, independentemente de quem sejam as ideias.

Esse direito não passa por ele ser de Pernambuco nem o fato de ser de Pernambuco invalida a crítica. Não me consta que para criticar as ideias de alguém neste mundo o crítico tem que ser, necessariamente, de algum lugar previamente escolhido.

Sobre nunca ter saído de Pernambuco, se for verdade, não significa nada, não é um demérito. Não sei onde está escrito que alguém de Pernambuco tem que buscar reconhecimento em algum outro lugar.

Com ou sem cerimônia, o que importa é se as críticas de Rands são ou não válidas, são ou não procedentes. Só isso importa discutir.

(…)”

Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/o-dia-em-que-alexandre-quem-julgou-ter-demolido-celso-furtado

Nassif tem se notabilizado por opiniões que deixam transparecer um inconformismo com a sua posição de jornalista que perdeu importância, se é que um dia a teve. Uma das últimas dele foi defender, num artigo intitulado “A hipocrisia da punição aos ginastas que brincaram com o colega”, no pior estilo “conversa de botequim”, o racismo dos três ginastas brasileiros que atacaram um companheiro ginasta negro e filmaram, colocando o vídeo na Internet. Os três ginastas brasileiros chegaram, depois da repercussão que o caso obteve nas redes sociais, a filmar um vídeo pedindo desculpas ao ginasta negro. Nassif defendeu veementemente os três ginastas que fizeram piadas racistas contra o colega de treinamento, buscando diminuir a importância do caso. Para ele, o vídeo que circulou nas redes sociais sobre o caso foi editado e não mostrou uma parte em que os três ginastas brancos abraçam e dizem que amam o ginasta negro, que estava chorando neste momento. Segundo o jornalista de Poços de Caldas, advogando sem procuração em favor do racismo dos três ginastas, o que houve no caso foi um “injusto linchamento moral”, pois tudo não passou de uma mera “brincadeira”.

Quer dizer, ele defendeu que o racismo expresso dos três ginastas brasileiros não devia ser censurado porque foi apenas uma “brincadeira” e a reação que se seguiu foi “exagerada”, coisa do mundo politicamente correto em que vivemos, muitas vezes “insensível” e “sensacionalista”. Um dos argumentos dele, apresentado em outro texto sobre o caso, intitulado “Considerações sobre a face benevolente do racismo“, no pior estilo “conversa de botequim” anteriormente citado, de fazer vergonha alheia, era o de que agora ele não poderia chamar um certo Almeida de um botequim que ele frequenta de “negão” e essa pessoa não poderia retrucar dizendo que, “quando tomasse o poder, mandaria-o de volta para o Líbano em um navio branqueiro”. Impressionante a falta de proporção dos exemplos e a falta de percepção acerca do dolo existente no vídeo dos três ginastas, que fizeram piadas com a intenção de diminuir, de magoar o ginasta negro. Nassif desconsidera os sentimentos da vítima e desconsidera que os próprios três ginastas pediram desculpas ao ginasta negro, em outro vídeo, especialmente filmado para fazer isso depois da repercussão negativa que a conduta deles recebeu nas redes sociais.

Lembro de um outro episódio, dessa vez envolvendo um leitor/internauta de sobrenome Assis Ribeiro, natural ou residente em Salvador, que até deixou de comentar os posts na seção do Jornal GGN chamada Luis Nassif Online depois do que aconteceu. Nassif, escrevendo como um autêntico jornalista frustrado, não gostou de uma critica que Assis Ribeiro fez e disse, em resposta, que ele conhecia políticos e autoridades de falar e estar com eles pessoalmente e não de vê-los em cima de um trio elétrico no carnaval de Salvador, afirmação feita com a nítida intenção de diminuir o leitor que teve a “audácia” de criticá-lo sendo de Salvador. Assim como quem criticou a academia paulista que insiste tediosamente em estudar autores como Celso Furtado não pode ser um economista de Pernambuco, Nassif, o jornalista sem público, só aceita criticas de pessoas com as quais ele se mede. Ao defender esse tipo de pensamento, transparece o perfil recalcado, veiculador de preconceitos e discriminações, de um jornalista menor que termina tendo a importância e o alcance das mesas de bar onde meia dúzia de pessoas o vêem tocar musicas de compositores consagrados da música brasileira. Só resta usar como desculpa a alegação de escrever textos discriminatórios e preconceituosos, estupidamente falaciosos, nos intervalos entre um aperitivo e outro nos “botecos” da vida. Pelo menos o jornalismo “conversa de botequim” deixará de ser levado a sério e pode usar isso em sua defesa nos eventuais processos judiciais que tiver que responder, similarmente ao que fez a defesa de Danilo Gentili na ação que o Instituto Lula moveu contra ele.

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