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A esquerda deve ocupar mais os espaços da grande imprensa nas redes sociais

Eu considero que as esquerdas no Brasil ocupam muito menos os espaços da grande imprensa nas redes sociais do que deveriam. Era para ocupar muito mais. Preferem, o que considero um erro de avaliação, se enfurnar na blogosfera, quando o debate deve ser público e em todos os espaços possíveis.

Eu, sempre que posso, marco posição e rebato as informações dadas em alguma notícia que considero enviesada politicamente ou não se atendo a outros aspectos importantes. Um aspecto que eu tomei conhecimento recentemente é que as mulheres de esquerda sofrem ataques muito agressivos quando se aventuram a comentar contra alguma notícia anti-governo veiculada pela grande imprensa.

Uma vez eu questionei por que o que uma mulher escreveu na página do site Pragmatismo Político no Facebook e obteve tantas curtidas não foi escrito por ela também numa página da grande imprensa na mesma rede social. Disse que ela tinha que expor aquela opinião não apenas num espaço supostamente favorável em termos políticos, mas também num espaço mais diversificado, para estimular o senso crítico das pessoas em geral. Sabe qual foi a resposta dela? Que era fácil falar isso porque eu era homem (!). Eu disse: “Como assim? Você sofre agressão por ser mulher?” Ela disse: “exatamente” e saiu contando alguns casos concretos. É por essas e por outras que a esquerda deve se unir e atuar mais em conjunto nos espaços da grande imprensa. Quebrar essa hegemonia, ora. Os caras falam sozinhos. Eu sempre exponho minha opinião, sem qualquer receio. Mais gente deveria fazer isso.

Vejo notícias e mais notícias veiculadas pela Folha, Estadão, O Globo, Veja etc, nas redes sociais praticamente livres de contestação, de contraponto. Só quem se manifesta, em muitos casos, são os que concordam com a linha editorial da grande imprensa. Isso não pode. A Internet é livre. Tem que invadir e começar a questionar, em peso, em bloco. Quebrar essa hegemonia de só ter gente reacionária, de direita ou conservadora opinando nos espaços mais acessados. Não existe espaço desse ou daquele. O espaço é, em tese, público e lida com temas de interesse público. Quem é de esquerda é também cidadão e tem o direito de expressar o seu pensamento, suas opiniões políticas. O Brasil é uma democracia e nós precisamos exercitar melhor esse conceito.

Vou citar um exemplo ocorrido hoje na página do jornal “O Globo” no Facebook, que publicou uma notícia com a seguinte manchete: “Maioria do TSE vota pelo desarquivamento de investigação contra campanha de Dilma” (ver a notícia clicando no link a seguir: https://www.facebook.com/jornaloglobo/posts/1105846169455061).

Eu comentei explicando o erro, a tentativa de manipulação das pessoas contida na manchete, afinal, não foi uma “investigação” que foi desarquivada, mas sim um processo judicial que veiculava uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME), proposta pelo PSDB contra a candidatura de Dilma Rousseff. Expliquei que a situação suscitada por iniciativa do ministro Gilmar Mendes era teratológica, uma monstruosidade jurídica, absolutamente inválida, uma vez que ele decidiu pelo desarquivamento do processo com base em fatos novos, posteriores à propositura da ação e ao próprio arquivamento do processo, algo completamente proibido e não autorizado pelo direito.

Eis o comentário na íntegra:

“Desarquivar uma investigação? Que espécie de jornalismo é esse? Não consegue nem dar a notícia de forma correta e verdadeira. O que foi desarquivado, por força de uma iniciativa teratológica do ministro Gilmar Mendes, foi uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) que já tinha sido arquivada. Detalhe: desarquivaram um processo usando fatos novos, o que não é permitido em direito. Se um processo foi arquivado, ele foi arquivado e pronto. Novos fatos devem ser discutidos numa nova ação. Acontece que a ação para impugnar mandato eletivo tem prazo de 15 (quinze) dias, contados da diplomação. O que o Gilmar Mendes fez? Como uma nova ação de impugnação de mandato eletivo encontra obstáculo na questão do prazo para a sua propositura (os quinze dias já finalizaram faz tempo), ele usou fatos novos ou supervenientes (não usados pelo autor da ação no primeiro momento) para desarquivar o processo, passando por cima da lei, da Constituição Federal e do direito processual. Querem dar o golpe a pulso, contando com a “forcinha” da grande imprensa, que distorce os fatos e manipula as pessoas. Essa manchete é uma vergonha absoluta em termos de jornalismo!!”

Eu li rapidamente os comentários dos internautas e a maioria sequer atentava para a manipulação de O Globo e, mais grave, sequer atentava para o quão grave foi essa iniciativa de desarquivar o processo com base em fatos novos. Claro que as coisas são assim: não existe contraponto na dimensão exigida porque simplesmente quem deveria fazer isso, se omite, seja lá a razão pela qual faz isso.

Portanto, considero importante e mesmo fundamental que a esquerda ocupe os espaços da grande imprensa nas redes sociais. A esquerda brasileira deve ocupar cada vez mais tais espaços e quebrar a hegemonia reacionária que existe. O debate de ideias é sempre salutar para a democracia.

Discordo, inclusive, de recente texto, intitulado “Compartilhar para falar mal. Apenas parem”, publicado no site da revista Carta Capital, em que o autor, Lino Bocchini, defende a tese de que é errado divulgar textos que saem na grande imprensa dos quais você discorda, mesmo que seja para mostrar os erros do colunista autor do texto ou criticá-los, defender ideias contrárias as que se encontram no texto divulgado. O erro estaria no fato de que, ao fazer isso, a pessoa estaria “legitimando o veículo ou o colunista como um polo de discussão”. Para Bocchini, seria irrelevante se você concorda ou discorda do texto. Cada vez que alguém compartilha o texto, mais pessoas são pautadas por ele, inclusive quem compartilhou e os amigos dele.

Eu discordo da ideia, apesar de entender a intenção do boicote proposto, ainda que ela não tenha qualquer força na realidade dos fatos. O boicote às notícias da grande imprensa das quais você discorda, ao fim e ao cabo, é um tanto quanto inócuo para lutar contra a importância mercadológica da grande imprensa. É importante sim rebater o que está escrito. Pior é imaginar que os deixar para lá, ignorar, irá diminuir o efeito do que eles escrevem. O debate aberto, o confronto de ideias, sempre será melhor do que simplesmente deixar alguém que você considera que está errado falando sozinho. Quem tem razão no debate não precisa cercear nem censurar a opinião discordante. A liberdade de expressão deve ser exercida inclusive para legitimar aquilo que você defende. E não se faz isso evitando o contraditório, o confronto de ideias. O debate deve ser encarado com naturalidade. O que deve prevalecer é a força das ideias, tudo isso dentro de um ambiente democrático e livre de cerceamentos.

Acredito que é importante não só rebater os textos da grande imprensa dos quais se discorda no próprio espaço ou em espaços favoráveis à visão política de quem discorda deles, se for o caso, mas também ocupar os espaços nos quais as notícias, colunas ou posts em geral são originalmente publicados e fazer o contraponto. Nada disso impede que você divulgue os seus próprios textos críticos nos espaços que acha melhor. Dá para fazer as duas coisas. Ignorar quem pensa diferente de você nunca foi uma boa estratégia, ainda mais quando a correlação de forças é desproporcional, como neste caso da grande imprensa.

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