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O indisfarçável ataque ao Nordeste do jornalismo “conversa de botequim”

O jornalista Luis Nassif, natural de Poços de Caldas e que fez carreira em São Paulo, escreveu um post na seção Luis Nassif Online do Jornal GGN, site de sua propriedade, atacando, de forma inequivocamente preconceituosa e discriminatória, passível, a depender da interpretação, de ser considerada racista, ainda que de forma velada, o diretor presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, num artigo intitulado “Flávio Rocha, o pobre homem rico da Riachuelo”.

Sob a desculpa de criticar o empresário pelo fato dele, ao “ousar” analisar a “matriz econômica” do Governo Dilma, ter declarado que preferia um impeachment rápido a ter que enfrentar três anos de um governo inerte, como o de Dilma Rousseff, algo nessa linha, Luis Nassif usou, de forma possivelmente ilícita, o fato do dono da Riachuelo ser do Nordeste para destilar um preconceito rasteiro e não menos lamentável em sua falta de escrúpulos. Para ele, o “nordestino” (sic) dono da Riachuelo não tem o direito de falar isso porque é do Nordeste, a região que supostamente mais teria se beneficiado com os programas sociais implementados pelos Governos do PT, fato que teria favorecido a Riachuelo, uma empresa que vende, segundo ele reforçou, para pessoas de baixa renda e que está longe de ter como público consumidor a elite do país. Em contraponto às críticas ao perfil empresarial do “nordestino” Flávio Rocha, Nassif cita como exemplos Jorge Gerdau e Jorge Paulo Lehman e seus sócios, cujo grupo empresarial foi recentemente objeto de uma matéria da BBC Brasil que ligava uma de suas fundações ao movimento golpista “Vem pra Rua”, como se pode ler num post que eu escrevi em meu antigo blog, intitulado “O novo ramo do mercado: a indústria do golpe”.

Não bastasse ter praticamente dito, ainda que por outras palavras, que todos os habitantes do Nordeste, não importa aqui se é rico ou pobre, não têm o direito de criticar o Governo Dilma por causa dos programas sociais, o que só reforça as críticas da direita reacionária brasileira de que os programas sociais são usados como verdadeiras chantagens moral e política (“quem você pensa que é para não apoiar o Governo do PT? Um pobretão do Nordeste que vive de programas sociais, ora”) e compras de votos, afinal, ninguém do Nordeste tem nem mais o direito de criticar o governo por causa disso, Nassif acusa o dono da Riachuelo de ter “vergonha” de ser do Nordeste, num texto ignominioso onde fica claro o desvio de conduta do jornalista que Diogo Mainardi, certa feita, chamou de “banana” numa coluna da revista VEJA e chegou a ser processado por isso. Certamente o ataque ao Nordeste registrado no texto, ainda que sob a desculpa de atacar o perfil do dono da Riachuelo, não é coisa de “banana”, mas, do ponto de vista ético, é extremamente lamentável.

Afinal, por que alguém acharia que um empresário do Nordeste tem “vergonha” de ser oriundo do Nordeste? Evidentemente está, ainda que indiretamente, atribuindo qualidades negativas ao fato de se ter nascido no Nordeste, ao ponto de supor que o empresário Flávio Rocha teria “vergonha” de ser chamado de “nordestino” pelos “colegas” do Sudeste. Em outras palavras, a percepção social que ele tem do que as pessoas acham sobre o que significa ser do Nordeste é tão ruim que ele é capaz de supor que alguém, mesmo um empresário bem sucedido como Flávio Rocha, teria “vergonha” disso. Inacreditável e não menos constrangedor que um jornalista, que se arroga na posição de formador de opinião, escreva algo desse nível como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Pelo texto, parece algo que teve que ser cavado para atacar pessoalmente o empresário Flávio Rocha. Como não podia atacar o empresário enquanto tal, afinal, como o próprio Nassif fez questão de registrar, trata-se de um “homem muito rico”, bem sucedido, lançou-se mão do puro e simples ataque pessoal valendo-se da região onde ele nasceu, o Nordeste, mais precisamente no estado do Rio Grande do Norte. É para acender o sinal de alerta de todos os empresários bem sucedidos do Nordeste, considerando que, se o jornalista Luis Nassif não gostar do que eles declararem em alguma entrevista, ele estará disposto a lembrá-los de que eles são do Nordeste e do quanto eles sentem “vergonha” disso.

A linha do ataque baixo proferido contra o dono da Riachuelo é a de desmerecê-lo por ele não ter a suposta sofisticação nem a origem necessária para bancar uma de membro da elite brasileira. Afinal, para isso, defende o deslumbrado Luis Nassif, oriundo da conservadora sociedade mineira, mais especificamente da interiorana Poços de Caldas, é preciso, no mínimo, não ser do Nordeste e vender para pessoas ricas e “sofisticadas”, o que não é o caso da Riachuelo. Se o dono da Riachuelo ao menos fosse do sudeste e realmente fosse uma pessoa que empreendesse para pessoas ricas e “sofisticadas”, Nassif não falaria nada, conforme se depreende de suas palavras e do perfil injustificadamente esnobe que ele ostenta no texto, sendo ele o mero dono de um site “jornalístico” amador que vive de receber verbas públicas federais, salvo a existência de algum outro empreendimento igualmente desimportante (“Agência Dinheiro”?). Ou seja, Nassif atacou a condição de nascido no Nordeste do empresário, o que é, evidentemente, preconceituoso e discriminatório, não fazendo qualquer sentido imaginarmos esse tipo de referência a um empresário que tivesse nascido no Sudeste, como o texto deixou muito claro. O simples fato de ser do Nordeste desautoriza o empresário em sua crítica, na opinião de Nassif.

Não é a primeira vez que Nassif, o jornalista sem público, como outrora, age dessa forma contra o Nordeste e contra quem o oriundo da provinciana Poços de Caldas acha que não merece respeito. Certa feita, ele, que não tem qualquer importância no pensamento econômico brasileiro, de qualquer ponto de vista que se analise, sendo um mero jornalista que escreve muito mal sobre economia, num texto intitulado “O dia em que Alexandre Quem? julgou ter demolido Celso Furtado“, escreveu expressamente que o principal economista que integrava o grupo de Eduardo Campos, Alexandre Rands, que era inclusive irmão do deputado Maurício Rands, não tinha estofo para criticar Celso Furtado, o economista e intelectual brasileiro renomado que era inclusive natural de Pombal, no sertão da Paraíba, e chegou a estudar em Recife antes de se mudar para o Rio de Janeiro com a família, como havia feito por meio de uma crítica que, em verdade, se dirigia muito mais aos centros acadêmicos paulistas que viviam eternamente estudando os mesmos autores, a exemplo da Unicamp, justificando a sua censura ao economista pernambucano porque ele simplesmente era de Pernambuco e nunca tinha saído de Pernambuco, ninguém o conhecia fora do Estado, algo nessa linha. Um argumento nitidamente falacioso, que usa de recursos como ataque ad hominem, falácia ad populum e falácia do apelo à autoridade para desmerecer a crítica, que deve ser analisada apenas e exclusivamente pelo teor das ideias que veicula, descartados outros fatores. Enfim, puro preconceito e discriminação, tão ao gosto dele, como já ficou claro em inúmeros textos de sua autoria.

Eu inclusive cheguei a comentar esse post indicando o equívoco da crítica, tendo argumentado na ocasião o seguinte:

“O pernambucano Alexandre Rands tem o direito de criticar as ideias de quem ele achar que deve, independentemente de quem sejam as ideias.

Esse direito não passa por ele ser de Pernambuco nem o fato de ser de Pernambuco invalida a crítica. Não me consta que para criticar as ideias de alguém neste mundo o crítico tem que ser, necessariamente, de algum lugar previamente escolhido.

Sobre nunca ter saído de Pernambuco, se for verdade, não significa nada, não é um demérito. Não sei onde está escrito que alguém de Pernambuco tem que buscar reconhecimento em algum outro lugar.

Com ou sem cerimônia, o que importa é se as críticas de Rands são ou não válidas, são ou não procedentes. Só isso importa discutir.

(…)”

Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/o-dia-em-que-alexandre-quem-julgou-ter-demolido-celso-furtado

Nassif tem se notabilizado por opiniões que deixam transparecer um inconformismo com a sua posição de jornalista que perdeu importância, se é que um dia a teve. Uma das últimas dele foi defender, num artigo intitulado “A hipocrisia da punição aos ginastas que brincaram com o colega”, no pior estilo “conversa de botequim”, o racismo dos três ginastas brasileiros que atacaram um companheiro ginasta negro e filmaram, colocando o vídeo na Internet. Os três ginastas brasileiros chegaram, depois da repercussão que o caso obteve nas redes sociais, a filmar um vídeo pedindo desculpas ao ginasta negro. Nassif defendeu veementemente os três ginastas que fizeram piadas racistas contra o colega de treinamento, buscando diminuir a importância do caso. Para ele, o vídeo que circulou nas redes sociais sobre o caso foi editado e não mostrou uma parte em que os três ginastas brancos abraçam e dizem que amam o ginasta negro, que estava chorando neste momento. Segundo o jornalista de Poços de Caldas, advogando sem procuração em favor do racismo dos três ginastas, o que houve no caso foi um “injusto linchamento moral”, pois tudo não passou de uma mera “brincadeira”.

Quer dizer, ele defendeu que o racismo expresso dos três ginastas brasileiros não devia ser censurado porque foi apenas uma “brincadeira” e a reação que se seguiu foi “exagerada”, coisa do mundo politicamente correto em que vivemos, muitas vezes “insensível” e “sensacionalista”. Um dos argumentos dele, apresentado em outro texto sobre o caso, intitulado “Considerações sobre a face benevolente do racismo“, no pior estilo “conversa de botequim” anteriormente citado, de fazer vergonha alheia, era o de que agora ele não poderia chamar um certo Almeida de um botequim que ele frequenta de “negão” e essa pessoa não poderia retrucar dizendo que, “quando tomasse o poder, mandaria-o de volta para o Líbano em um navio branqueiro”. Impressionante a falta de proporção dos exemplos e a falta de percepção acerca do dolo existente no vídeo dos três ginastas, que fizeram piadas com a intenção de diminuir, de magoar o ginasta negro. Nassif desconsidera os sentimentos da vítima e desconsidera que os próprios três ginastas pediram desculpas ao ginasta negro, em outro vídeo, especialmente filmado para fazer isso depois da repercussão negativa que a conduta deles recebeu nas redes sociais.

Lembro de um outro episódio, dessa vez envolvendo um leitor/internauta de sobrenome Assis Ribeiro, natural ou residente em Salvador, que até deixou de comentar os posts na seção do Jornal GGN chamada Luis Nassif Online depois do que aconteceu. Nassif, escrevendo como um autêntico jornalista frustrado, não gostou de uma critica que Assis Ribeiro fez e disse, em resposta, que ele conhecia políticos e autoridades de falar e estar com eles pessoalmente e não de vê-los em cima de um trio elétrico no carnaval de Salvador, afirmação feita com a nítida intenção de diminuir o leitor que teve a “audácia” de criticá-lo sendo de Salvador. Assim como quem criticou a academia paulista que insiste tediosamente em estudar autores como Celso Furtado não pode ser um economista de Pernambuco, Nassif, o jornalista sem público, só aceita criticas de pessoas com as quais ele se mede. Ao defender esse tipo de pensamento, transparece o perfil recalcado, veiculador de preconceitos e discriminações, de um jornalista menor que termina tendo a importância e o alcance das mesas de bar onde meia dúzia de pessoas o vêem tocar musicas de compositores consagrados da música brasileira. Só resta usar como desculpa a alegação de escrever textos discriminatórios e preconceituosos, estupidamente falaciosos, nos intervalos entre um aperitivo e outro nos “botecos” da vida. Pelo menos o jornalismo “conversa de botequim” deixará de ser levado a sério e pode usar isso em sua defesa nos eventuais processos judiciais que tiver que responder, similarmente ao que fez a defesa de Danilo Gentili na ação que o Instituto Lula moveu contra ele.

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