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Vaia da oposição não tem, por si só, relevância alguma e é até mesmo esperada

Vaia da oposição não tem, por si só, peso nenhum, relevância alguma. Não considero o caso da vaia que a presidenta da república, Dilma Rousseff, levou na abertura dos trabalhos parlamentares de 2016 relevante, de nenhum ponto de vista possível. O Governo Dilma é efetivamente ruim. Antes de se preocupar com as vaias, devia melhorar o desempenho.
Postarei vídeos abaixo que trazem o debate que se estabelece entre o primeiro ministro britânico e o líder da oposição na House of Commons, no que se conhece como Prime Minister’s Questions (PMQ, na sigla em inglês), que acontece toda quarta-feira, ao meio-dia, na House of Commons. Dura uma hora. O ânimo varia de acordo com os tipos de questões que são colocadas, com os debatedores e também com o clima político então vigente.
Num dos vídeos abaixo, o debate entre James Cameron (primeiro ministro do Partido Conservador Britânico) e Jeremy Corbyn (líder do Partido Trabalhista Britânico) ocorrido no último dia 14/10/2015 está longe de ser travado num clima ameno (num certo momento, Corbyn cobra seriedade à questão que ele vai fazer, dizendo que não é engraçado para um certo Mathew o problema relacionado à moradia que ele enfrenta). A última coisa que se espera nas PMQs é que a oposição aplauda ou seja “agradável” com o primeiro ministro.
Antes que digam que isso não significa autorização para vaiar, a oposição não só vaia, como faz piada, ridiculariza a figura do primeiro ministro. Chama-o de “fraco”, “mentiroso” e “incompetente” com todas as letras, dentre outros ataques. E ninguém se escandaliza com isso, num ambiente democrático de alta intensidade e exercício pleno do contraditório. Tudo bem que a coisa não descamba para a baixaria e falta de educação, mas tem vaia também, algazarra, ironia, comentários ácidos, desqualificação de todo tipo.
Eu considero um modelo de democracia incrível o britânico. Muito mais civilizado e inteligente. Inglaterra é categoria, cria uma independência e segurança nas pessoas. Ninguém se alarma ou se escandaliza com o contraditório, mesmo o mais ferrenho e implacável. Faz parte, simplesmente isso. Política não é uma “panelinha” para abrigar apaniguados ou compadres. Sempre foi e sempre será conflito, briga de interesses. Democracia é isso. Tem que testar o contraditório ao máximo, até isso entrar por osmose. No Brasil, as pessoas ainda engatinham nisso. Se você discorda de alguém no Brasil, é quase 100% certo, na maioria esmagadora das vezes, que você adquiriu um inimigo pessoal para o resto da vida hehe. O Reino Unido é um modelo do que eu chamo de democracia de alta intensidade.
Noutro dos vídeos abaixo, retirado do site do Parlamento britânico, temos uma audiência, ocorrida ontem (02/02/2016), do Secretário de Estado para os Negócios, Inovação e Habilidades (Secretary of State for Business, Innovation and Skills), um descendente de paquistaneses do partido conservador, chamado Sajid Javid. Os deputados questionam o secretário de estado para os negócios, inovação e habilidades das mais diversas formas. A pauta da discussão é sobre a indústria automobilística britânica. No Brasil, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada (caput do art. 50 da Constituição Federal). Quando isso acontece, geralmente estamos diante de uma crise política. No Reino Unido, esse tipo de interação é o habitual, o comum.
Portanto, as vaias são uma bobagem tremenda e a preocupação com elas mostra apenas o quanto este país não tem a menor ideia do que é uma verdadeira democracia. Brasileiro é, na média, autoritário e averso ao contraditório. Isso é assim também porque se perde neste país o foco no que realmente deve importar.
Essa diferença entre as realidades das políticas britânica e brasileira, quando o assunto é a forma com que reagimos ao contraditório e como lidamos com ele, em comparação ao que é observado no Reino Unido, é mais uma questão cultural mesmo. O exercício pleno do contraditório é uma tradição cultural existente no Reino Unido há séculos que os brasileiros precisam assimilar. Isso deve ser aplicado em todas as áreas, não apenas na política, frise-se. Não penso que exista democracia sem esse exercício e sem essa tolerância ao contraditório. A origem de nossa pouca prática democrática advém do regime de opressão e autoritário classista que dominou durante séculos e ainda domina este país.
O povo não era chamado para participar do debate político. As elites dirigentes, autoritárias, não permitiam e tratavam o povo na base da truculência e do desrespeito. Claro que isso termina se espalhando para muitos outros setores. Não temos um povo educado para exercer plenamente o contraditório, máxime na política. Isso, no entanto, precisa ser superado, para o bem de nossa democracia.
Vaia da oposição, reitere-se, não tem, por si só, significado nenhum relevante para a avaliação do governo. Mesmo se a Dilma estivesse fazendo o melhor governo possível, o que não está, ao contrário, faz provavelmente o pior governo possível, a tendência sempre será a de ser desaprovada e desprezada pela oposição. Muito mais importante é que ela melhore e se reporte aos seus eleitores e ao povo. Querer que a oposição seja “boazinha” com ela é uma piada. Oposição existe, dentre outras coisas, para vaiar mesmo. Isso é naturalmente esperado. O resto é ranço autoritário de um povo que ainda não aprendeu a conviver com o contraditório e a se impor com suas ideias. Esse vitimismo brasileiro, eterno sinal de imaturidade, é um atraso. Não gostou da vaia? Simples: Reaja à altura na hora em que ela acontece. Não adianta choramingar depois. Isso sim é ridículo.
David Cameron vs Gordon Brown:
Tony Blair vs. John Major – “Weak, weak, weak!”: 
Jeremy Corbyn vs. James Cameron:
Questionamento do Secretário de Estado para os Negócios, Inovação e Habilidades (Secretary of State for Business, Innovation and Skills), ocorrido na data de 02/02/2016 (ontem), um descendente de paquistaneses do partido conservador, chamado Sajid Javid: http://www.parliamentlive.tv/Event/Index/4158bf1d-1621-4577-a4fa-d42525c79d42

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