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Marcia Tiburi sai em defesa de Jean Wyllys contra a “militância de tribunal”

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Marcia Tiburi escreveu um artigo (ver aqui: http://revistacult.uol.com.br/home/2016/01/odio-ao-semelhante-sobre-a-militancia-de-tribunal/” basicamente criticando as pessoas que criticaram Jean Wyllys pelos relatos e ideias que ele defendeu quando fez a viagem a Israel (ver o meu post sobre o assunto aqui: https://alessandreargolo.wordpress.com/2016/01/11/a-captura-de-jean-wyllys-pela-propaganda-sionista-israelense/) com a intenção de apenas destilar “ódio” e puni-lo de forma particularmente cruel, isto é, tais pessoais apenas registraram as críticas para atacá-lo por puro desejo, o que seria uma espécie de comportamento patológico social nos tempos de Internet e redes sociais. Ela cunhou até uma expressão. Disse que tais pessoas integravam uma “militância de tribunal”. São, portanto, “militantes de tribunal”. No caso, os “tribunais” são as redes sociais, a Internet, os sites de notícia da imprensa, etc.

Tentando proteger o amigo que assinou o prefácio do livro que ela publicou (“Como Conversar Com Um Fascista”), ela diz que a “militância de tribunal” se apresenta da seguinte forma:

“(…) manifestação de ativismo político, mas se reduz ao ato de proferir julgamentos, todos de natureza condenatória, contra seus adversários e, muitas vezes, em desfavor dos próprios parceiros de projeto político. São típicos julgamentos de exceção, nos quais a figura do acusador e do julgador se confundem, não existe uma acusação bem delimitada, nem a oportunidade do acusado se defender. Nesses julgamentos, que muito revela do “militante de tribunal”, os eventuais erros do “acusado”, por um lado, são potencializados, sem qualquer compromisso com a facticidade; por outro, perdem importância para a hipótese previamente formulada pelo acusador-julgador, a partir de preconceitos, perversões, ressentimentos, inveja e, sobretudo, ódio.”

Depois de cunhar o conceito e definir a forma de atuação da “militância de tribunal”, de uma forma muito abstrata e sem indicar as características concretas desses julgamentos, isto, sem dizer como exatamente eles se manifestam no caso concreto, ela chega à conclusão que isso, esse ódio todo que o “acusador-julgador” destila contra o “julgado”, claro, é ruim, e pessoas como Jean Wyllys, pelo conjunto da obra, não merecem ser julgados pela “militância de Tribunal”, até porque muitos desses militantes não têm trabalho nenhum ofertado junto à sociedade na área dos direitos humanos. Estão, portanto, abaixo de pessoas como Jean Wyllys e não têm o direito de criticá-las.

Nessa categoria, Marcia Tiburi, a teórica pós-moderna da esquerda brasileira que está na moda, inclui particularmente os “defensores dos direitos humanos” e não apenas os internautas ignorantes e imbecis que existem aos montes. O alvo dela são as pessoas que defendem e trabalham com direitos humanos que criticaram Jean Wyllys e, de acordo com ela, sem apontar nomes, apenas destilaram ódio contra o deputado. Termina dizendo que tais pessoas não querem transformar nem melhorar nada com as suas críticas, mas apenas puni-lo de uma forma que tudo continue do mesmo jeito, “para manter o seu próprio poder, para justificar o tribunal que montou no sofá de sua casa diante de um computador.”

Espremendo o texto, sobra isso de argumento.

A ideia é dizer que tais pessoas não defendem, na realidade dos fatos, preguiçosos e ineptos que são, os direitos humanos como Jean Wyllys defendeu e, por isso, não têm o direito de criticá-lo, pois nada fizeram de significativo sobre tais assuntos, enquanto o super-heroi dos direitos humanos, Jean Wyllys, enfrentava os “temíveis monstros” do “fascismo” tupiniquim, como homofóbicos e reacionários da estirpe de Bolsonaro, Malafaia e Feliciano.

Como eu fui um dos críticos de Jean Wyllys, me sinto no direito de responder a essa bobagem relativista e casuísta. Primeiro, a acusação é genérica, abstrata, nada específica ou concreta. Ela não fez nenhum levantamento sobre as críticas para estabelecer quaisquer estatísticas. Portanto, não demonstra, como deveria, se as críticas foram pertinentes ou meras manifestações de ódio.

Ela sequer explica como podemos identificar uma crítica dessa. Por exemplo, quando podemos saber exatamente que uma crítica está eivada de “ressentimentos” e “inveja”? É uma acusação covarde em sua obscuridade, uma vez que não enfrenta os fatos que ataca nem exemplifica. Existe margem para uma subjetividade muito grande, algo como “você me criticou porque tem inveja de mim”. Vira desculpa para atacar a crítica e o crítico que contrariou o criticado. É uma estratégia de proteção do criticado que se expôs seriamente em questões importantes por causa da péssima qualidade das ideias que defendeu. É uma mitigação da responsabilidade que deve existir no debate dos grandes temas. Quem aceita participar ativamente do cenário político que envolve temas importantes, como direitos humanos, deve estar preparado para responder por suas ações e pelas ideias que defende. Não pode apelar para argumentos que buscam minimizar e tornar aceitável a invalidade das ideias que defende ou os erros que cometeu, os quais podem inclusive comprometer a pessoa do ponto de vista moral.

Por outro lado, fiquei curioso para saber quais foram as críticas que incentivaram-na a escrever esse texto. Quem foram os críticos que agiram assim, Marcia Tiburi? Dê nomes aos bois para que as pessoas possam se defender, ora.

Paulo Sérgio Pinheiro? Milton Temer? Amir Sader? Waldo Melmerstein? Quem??

Esse argumento se volta contra as premissas do próprio discurso que ela usa contra quem ela chama de “fascista”. Ou esse discurso não é patrulhamento e uma espécie de “militância de tribunal” também, só que veiculada na mídia de uma outra forma?

A partir do momento que ela se colocou contra as críticas, vistas apenas como meras manifestações de ódio contraproducente para a causa dos direitos humanos, e saiu em defesa do discurso do deputado Jean Wyllys, registrado nos relatos que ele fez sobre a recente viagem a Israel, fundamentado na “complexidade” do conflito palestino-israelense, “complexidade” esta que se resume aos extremistas de ambos os lados (do lado judeu-israelense, a direita e extrema-direita, sem citar os fanáticos religiosos, problema que ele reserva aos palestinos), do lado palestino, os fundamentalistas e terroristas islâmicos, continuando, a partir desse momento, a situação que ela criou é a de também comprometer as premissas em relação a que conceito de “fascismo” é esse com o qual ela trabalha e, o mais importante, quais as ações válidas, inclusive em termos de crítica, que devem ser praticadas a partir dessa constatação.

O discurso de crítica ao “fascismo” fica esvaziado do significado político que poderia estabelecer julgamentos morais e definir ações. Fica-se sem saber o que fazer quando detectamos certos padrões políticos de comportamentos que julgamos incorretos, quando o direito de crítica é criticado, pois visto como mera manifestação de ódio.

Israel mata uma quantidade absurda de pessoas ao longo de décadas, muitas vezes de forma covarde, brutal, completamente desumana, desrespeita inúmeros direitos humanos, expulsa todo um povo de suas terras, derruba casas, impõe restrições ao direito de ir e vir, que inclusive afeta o direito das crianças estudarem, aprisiona anualmente cerca de 700 crianças que estão em idade de nove anos de idade, sob a acusação de arremessar pedras em forças de ocupação israelenses, crianças estas que são maltratadas, torturadas, espancadas (escolha a palavra, tem para todos os gostos), que não gozam de qualquer defesa legal, dentro dos princípios do direito internacional.

Diante disso, Marcia Tiburi faz divulgar artigo nas redes sociais e nos sites da imprensa, logo ela, a pessoa que aponta e sai dizendo para os outros quem são os seres humanos “fascistas”, como eles são “ruins”, “burros”, “incapazes”, “maléficos”, “sem coração”, “sem amor”, “desumanos” etc, no qual defende o direito de Jean Wyllys discutir normalmente o conflito palestino-israelense por mei0 de uma posição que estabelece uma simetria entre ambas as partes, inclusive moral, concedendo-lhe o direito de ouvir os dois lados como se cada um tivesse as suas razões legítimas e aceitáveis, igualando opressor e oprimido, isso num país cuja população não só elege políticos que instituíram um verdadeiro apartheid, mas também promovem o que muitos consideram uma limpeza étnica, sem que as pessoas que tomam conhecimentos das ideias e posições políticas de Wyllys possam manifestar sua opinião crítica em relação a essa postura, sem que elas possam discordar disso fazendo os juízos morais rigorosos cabíveis na espécie, pois estamos lidando muitas vezes com violações ao direito à vida, quando sabemos que essa condescendência toda que exige que se tenha, os Bolsonaros, Malafaias, e Felicianos da vida não recebem do mesmo Jean Wyllys.

Eu pergunto: como é que ela, de agora em diante, pode ser levada a sério na hora de emular aquele discurso todo indignado contra quem acha que é “fascista”?

Ela se depara com algo talvez pior do que o conceito que ela tem de fascismo e acha normal, ao ponto de defender o direito de se dialogar como se não estivesse diante de algo nem sequer parecido com o fascismo como ela entende esta palavra, algo diferente, que tem suas razões “legítimas”.

É constrangedor eu dizer tudo isso, mas eu tenho que dizer. Quem foi “cordeirinho” diante de Israel, não tem muita moral mais agora para ficar emulando uma de “indignado” com os Bolsonaros, Felicianos e Malafaias da vida, muito menos fazer os juízo de valor moral que costuma fazer Jean Wyllys. Existe uma incoerência aqui. As premissas para ser tolerante e buscar o diálogo, compreendendo e considerando legítimas suas motivações, com Israel, que eu considero um dos exemplos máximos de violação aos direitos humanos que temos atualmente no mundo (o resto é a carnificina de sempre, ISIS, Arábia Saudita, Boko Haram etc), serão exigidas em casos muito menos graves de agora em diante, se o que defende Marcia Tiburi em relação a invalidade da “militância de tribunal” vingar ao final.

Ou seja, pessoas como Jean Wyllys e Marcia Tiburi comprometeram os próprios discursos, inequivocamente criaram precedentes para serem desautorizadas naquilo que defendem e costumam exibir em muitos lugares, sob pena de serem acusadas de casuístas.

São complacentes com os judeus israelenses porque…por que mesmo?

Judeu israelense tem agora passe livre para cometer qualquer tipo de atrocidade, mas pode ser considerado detentor de razões “legítimas”, o que exclui a possibilidade de se fazer juízos de valor moral mais rigorosos, “direito” este negado aos “fascistas”, como a trupe define de forma assistemática?

Ou, ao contrário, judeu israelense é ser humano como qualquer um e está sujeito aos julgamentos morais rigorosos e previstos em lei a que se submetem qualquer um em situação similar?

Essas perguntas devem ser enfrentadas por aquelas pessoas que parecem defender o privilégio, não o direito, de serem os únicos que podem integrar validamente a “militância de tribunal”, desde que os julgados não sejam judeus israelenses. Por que exatamente, eu não sei. Pensei que a igualdade de tratamento, a isonomia, fosse algo a ser observado em tais casos. Pelo visto, a se julgar pelo que defende Marcia Tiburi, eu estava enganado. O rigor das críticas só deve ser observado contra os outros. Nunca contra os privilegiados.

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